Gabi II

Dar aula depois do que aconteceu com a Gabi Franciscatto é tão agradável quanto abraçar um ouriço...Ainda lembro dela me dizendo que "histologia é difícil sôr!", e eu vá tentar convencer do contrário....Sabe, fico pensando no quanto a nossa, a minha, a sua vida, valem para uma burocrata de plantão ao telefone, entediada e querendo sacanear alguém, lá no fundo de seu pseudo-cérebro... Querem me dizer que uma senhora, ou senhor, ou sei lá quem, tem poderes de vida e morte, pode julgar a mim e a ti como um bando de idiotas que não têm o que fazer além de ligar pra SAMUla e passar trotes. Tá bom, eu dou trocentas horas de aula e de serviço público na semana, encaro estrada horas e horas, e ainda arranjo tempo pra maquinar qual trote vou fazer pra qual serviço público a sacanear. Beleza!!! Esses caras pensam!!!

O mestre Sérgio Porto, A.K.A Stanislau Ponte Preta certamente, após receber a Gabi lá em cima, deve ter ficado pasmo, pois seu FEBEAPÁ  continua, e com requintes de burrice, falta de caráter e coisas do tipo. Imagino seu jeito carioca de escrever e descrever sua sociedade pós golpe de 64, descrevendo toda a situação.

Qualquer pessoa com bom senso sabe que um acidente vascular cerebral, vulgo AVC, popular derrame, é incapacitante, a pessoa não consegue falar direito, ou se mexer, dependendo do ´pedaço de cérebro afetado, de qual artéria que sofreu lesão, de que parte do tecido nervoso ficou com irrigação a menor. Pelo jeito, a anta de telefone era uma das únicas pessoas que achavam que uma garota apavorada, sem sentir metade de seu corpo, com uma dor lancinante na cabeça, sozinha, a quilômetros do colo materno, que havia adotado as colegas mais velhas como "apoio materno", enfim... era capaz de liga e dizer: "oi, é da SAMU? Pois é, eu estou sem mexer metade do meu corpo, não consigo falar direito e estou com uma dor de cabeça que está me deixando doida...será que vocês podem por gentileza ver se é possível me auxiliar, e no menor tempo que for viável? Oh, entendo, lamento muito, perdão por importuná-los".... Um amigo me comentou que, caso ele precise de ajuda médica, é mais fácil pegar táxi em dia de chuva aqui em Porto Alegre do que catar ambulância da SAMUla....pelo menos você chega no hospital sabendo do que o José Simão, o Boechat, o Paulo Sant'anna e o Lauro Quadros falaram...

Dentro de tanta dor, louvo a atitude da família da Gabi. Seu pai, o sr. Bernardo, a quem não tive ainda a honra de conhecer, e a mãe da menina, providenciaram a doação de órgãos. Nobreza em meio à tanta dor... Córneas que farão alguém ver o mundo...pâncreas para devolver equilíbrio a alguma pessoa com diabetes....fígado e rins que devolverão qualidade de vida a alguém...válvulas cardíacas que permitirão que um coração pulse com vigor e saúde... Bem aventurados sejam, sr. e sra. Franciscatto!

Resta-nos a indignação, o luto, trabalhar a perda...aquela menina de cabelos pintados não estará assentada junto a sua turma. Contudo, quero crer que as pessoas que receberam seus tecidos e órgãos, seu DNA, portanto, estarão lá, no dia em que a turma de 2009/2 colar grau. Aqueles órgãos levarão o DNA de Gabi, sua identidade genética, enquanto seus receptores viverem. É o que me consola nessa hora complicada..

Um abração, fiquem com Deus

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