mico da vez

A pagação de mico brasileira voltou à pauta dos grandes eventos ambientais internacionais. Lá no distante 1972, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano, também conhecida como Conferência de Estocolmo, já houve uma tenebrosa participação do general Costa Cavalcanti, ministro do nefando governo Medici. O Brasil liderou o bloco de países em desenvolvimento que tinham posição de resistência ao reconhecimento da importância da problemática ambiental, sob o argumento (equivocado) de que a principal poluição era a miséria e que, portanto, se negavam a reconhecer o problema da explosão demográfica. A posição do Brasil era a de "Desenvolver primeiro e pagar os custos da poluição mais tarde", como declarou o Ministro Costa Cavalcanti, na ocasião. Algo em sintonia com o “milagre brasileiro” de Antonio Delfim Neto, l'ambassateur dix par cent na França, naquela época.

Com a desculpa esfarrapada de que era preciso produzir “mais alimentos, habitação, assistência médica, emprego e condições sanitárias” do que reduzir a poluição da atmosfera, Costa Cavalcanti afirmava que o desenvolvimento não poderia ser sacrificado por considerações ambientais. Em protesto, o então ministro estendeu uma faixa com os dizeres: “Bem vindos à poluição, estamos abertos a ela. O Brasil é um país que não tem restrições, temos várias cidades que receberiam de braços abertos a sua poluição, porque nós queremos empregos, dólares para o nosso desenvolvimento”. Em um Brasil que estava em pleno milagre econômico, era de se esperar uma imbecilidade desse calibre. Deu o que deu. Cubatão, Sinos, Gravataí, Tietê, Pinheiros, Baía da Guanabara que o digam...

Anos depois, achava que as coisas haviam evoluído. Uma Rio-92 depois, uma Rio+10/Johanesbourg depois, um protocolo de Kyoto depois, voltamos a ouvir coisas assustadoras de um representante brazuca em conferência da ONU para Meio Ambiente. O tapir da vez é o sr. Blairo Maggi, ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Na COP 22, durante a fase do Segmento de Alto Nível, eclipsando o ministro do Meio Ambiente Sarney Filho, o sr. Maggi foi a bolinha da vez. Bom, o cara é ligado ao agronegócio. Preciso dizer mais?

Maggi defende o agronegócio brasileiro, discordando de posicionamentos ambientalistas. Pelo menos o ser reconhece as mudanças climáticas como algo “comprovado cientificamente e um grande risco para a produção de alimentos no país”, já que “estão quebrando safras como eu nunca vi antes” e pergunta “como meus filhos e netos vão fazer agricultura nesse clima?” Só que Maggi não deixa de contestar as reservas legais definidas no Código Florestal Brasileiro. Questionando a preservação de terras na região amazônica, ele pergunta/afirma: “imagine um hotel que tenha 100 quartos, mas que só possa comercializar 20 unidades. As outras 80 ele tem que manter fechadas”. Ora, propriedades localizadas no bioma amazônico precisam manter 80% de suas áreas preservadas. O ministro só esqueceu que a definição das regras para as reservas legais foi exaustivamente debatida no Congresso Nacional e faz todo o sentido no contexto ambiental.

Outra polêmica de Maggi foi causada quando ele contestou o número de ambientalistas assassinados. O país lidera o ranking, segundo a ONG Global Witness: 50 assassinatos em 2015, e olha que quem noticiou foi o Globo, que não é exatamente o veículo preferido das esquerdas brasileiras... O ministro julga, do alto de sua sabedoria, que esses números não refletem a realidade, pois muitas dessas mortes foram causadas por conflitos que nada tem a ver com ativismo ou disputa por terras. Sei.

Blairo Maggi se mostra preocupado com o que o Brasil se comprometeu, “de onde virão os 40 bilhões de dólares que deverão custar a restauração de 12 milhões de hectares e a recuperação de 15 milhões de hectares de pastagens?”. Bom, se fizerem menos jantinhas para convencer deputados e senadores a votar o que “eles” querem, deve sobrar “uns pila” gordinhos...

Bom...fazendo a leitura crítica que me é de costume, reconheço que a coisa não andava exatamente o paraíso na área ambiental no governo pré-impeachment. Questiono a real necessidade de uma tão grande usina de (não tão) Belo Monte e outras rateadas ambientais do governo pregresso, e aquela frase sobre o sapinho-de-barriga-vermelha, de Arvorezinha, não precisava ter sido falada. Mas que o Sr. Maggi se puxou em suas afirmações, quase batendo o general Costa Cavalcanti, isso é verdade... E assim caminha a Humanidade, com passos de formiga manca e sem vontade...

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