Um herói improvável e uma taça inédita

As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia lusitána,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram
(Luis Vaz de Camões, Os Lusíadas, Canto I)
 
 A maioria dos brasileiros tem um restinho de Portugal em sua história familiar. Ou nas suas relações pessoais. Por essa razão, a final da Euro teve uma certa torcida verde e amarela, associada aos gajos d'além mar que vibraram com o jogo. 

E a vitória foi dupla, contra a França e sua torcida, e contra o tal Imponderável Futebol Clube, que tanto assola o futebol. O astro da equipe, Cristiano Ronaldo, deixara o campo francês com 25 minutos de jogo. Oh, stupoire, o que vamos a fazeire, ó pá?! 

E o improvável vence o Imponderável. Um salvador e abençoado golzinho na prorrogação, de um atacante vindo da Guiné Bissau. Um atacante contestado, só havia jogado 13 minutos na Euro, até a decisão. Opção de final de jogo para uma equipe sem seu líder, craque e artilheiro, o CR7, Éder chutou duas vezes a gol. Num deles, o gol redentor, que levava para Lisboa a taça da Euro.

Nascido na africana Guiné-Bissau, Éder, com o mesmo nome de um grande atacante do Grêmio, Atlético Mineiro e da própria Seleção Brasileira, chegou em Portugal aos três anos. Fora deixado por seus pais em uma instituição que cuidava de crianças de famílias pobres, o Lar Girassol. Ali cresceu, e acumulou castigos: costumava quebrar janelas com seus chutes nada certeiros dados no futebol com os outros meninos.

Enveredando-se pela bola, o jogador estreou na primeira divisão portuguesa em 2008, jogando pela Académica de Coimbra. 

Em Coimbra, o atacante muitas vezes jogava pela recompensa de um peso de carne, brindado por um açougueiro torcedor do clube que defendia. Quatro anos depois, transferiu-se para o Braga. Nunca foi artilheiro de nenhuma competição importante. Média de gols: sete por temporada. Uma média excepcional se você joga na defesa, plantado. Para um atacante, fica devendo...

O surpreendente boleiro Éder chegou à seleção portuguesa em 2012, disputou a Copa do Mundo-2014 e acabou contratado pelo Swansea City. Na Premier League inglesa, viveu (se é que isso fora possível) a pior fase de sua carreira. Foram nove meses sem marcar um triste golzinho. Emprestado ao Lille, em fevereiro, foi convocado para a Eurocopa. Naturalmente, foi contestado pelos torcedores e preterido da equipe titular pelo técnico Fernando Santos, em que pese fosse a única opção de atacante em sua posição convocado por Portugal. Antes da decisão da Euro, só havia tido 13 minutos em campo (seis contra a Islândia e mais sete ante a Áustria).

Como o galinho Chicken Little, aquele improvável rebatedor no baseball do desenho da Disney, a única opção de um treinador desesperado, sem o craque maior Cristiano Ronaldo, é escalado ao fim do jogo, diante da prorrogação. Deu apenas dois chutes. Um deles, o redentor golzinho, era o mais importante da história futebolística de Portugal.

Como diz o hino lusitano, "heróis do mar, nobre povo, nação valente e imortal, levantai hoje de novo o esplendor de Portugal!". Primeiro título da Euro em mãos lusas, taça erguida pelo ídolo maior Cristiano Ronaldo, graças aos pés do "patinho feio" guineano Éder. Levantai hoje de novo, Éder! Parabéns, com aquela ponta de inveja de ver os irmãos lusófonos levantando a Euro, quando nosso treinador com nome de anão de desenho não o permitiu com a Copa América, tampouco o sr.1x7 da Serra o fez...

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