Flávio Lewgoy (ou: o senhor está sendo irradiado)

Na manhã deste sábado, no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, um senhor idoso, de olhar calmo, se despediu da vida. Calou-se uma das principais vozes do ambientalismo gaúcho. O professor Flávio Lewgoy tinha 89 anos e lutava contra um câncer de próstata.Foi presidente da AGAPAN por um bom tempo, docente na UFRGS e perito criminalista dos bons.

Lewgoy nasceu em Porto Alegre, em 1926, e se formou Químico Industrial na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Conviveu com grandes nomes da ciência no estado: Casemiro Tondo, Antonio Cordeiro, Attico Chassot, Alarich Schultz, Irajá Damiani Pinto e outros. Na UFRGS, foi um dos fundadores do curso de História Natural, hoje Biologia. Nesse curso, lecionou Ecogenética, uma incrível disciplina optativa do curso de Biologia, que ministrou até se aposentar aos 70 anos. Ele também foi responsável pelo laboratório do Instituto de Criminalística do RS e pioneiro na introdução da química forense no Estado.

Lewgoy foi, acima de tudo, um grande ativista ecológico, com uma bagagem de informação técnica que lhe proporcionava uma ampla capacidade de argumentação. Em entrevista a Zero Hora em 2013, Flávio Lewgoy lembrou que ingressou na AGAPAN para engrossar o caldo nas mobilizações contra a fábrica norueguesa Borregard. Instalada em Guaíba, a fedorenta foi fechada em 1973 por causa da poluição e forte cheiro que gerava (lembro do futum na sacada da vó Nice...nauseante!). 

Entre as causas que abraçou, trabalhou também no cerco ao uso de agrotóxicos. O ambientalista também fazia a denúncia sobre a utilização de agrotóxicos mutagênicos na produção de alimentos alimentos, participava da campanha contra as usinas que queimam carvão, influenciou a elaboração da Lei do Agrotóxico e, mais recentemente, atuou na luta contra os transgênicos.

Me lembro de quando tive a alegria de ter uma aula de Ecogenética com prof. Lewgoy. Andamos pelo campus do Vale e pela Faculdade de Veterinária da UFRGS, com um contador Geiger em mãos, passos calmos, catando focos de radioatividade. O aparelhinho parecia uma conferência de grilos quando chegamos perto da radiologia do Hospital Veterinário. A calma quase proverbial do professor Flávio ao informar o então diretor do Hospital de que ele estava sendo fortemente irradiado me fez engolir a quase óbvia gargalhada que tentou brotar, ao estilo galpão...

Lewgoy deixa os filhos Ana, Suzete, Henrique e Bernardo, a mulher, Bella, cinco netos e um bisneto. E uma imensa lacuna para quem ama o meio ambiente e a ciência...

Comentários

  1. Caríssimo Guto
    tive o privilégio de ter sido colega do Prof. Lewgoy no departamento de Química Inorgânica do Instituto de Químiva da UFRGS.
    Esta manhã ZH me fez triste.
    Linda a tua homenagem.

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