aspectos psico-sociológicos da prática de estagiários/as de um certo órgão público

A pessoa chega. Um diretor, um gerente, um funcionário veterano olham, de cima pra baixo, olhos no currículo, muitas vezes resumidos até demais, parecendo perfil de Facebook. Aquela entrevista, aquele papo que lembra os velhos concursos de Miss Brasil ou similares. Só falta dizer que leu o "Pequeno Príncipe", que deseja a Paz Mundial e recitar a letra de "Imagine" de cor.

Aí tem aquelas fases dos estagiários e estagiárias. A primeira, quando a pobre criatura só falta pedir por favor pra entrar no próprio local de trabalho, e que qualquer novidade é o inesperado. A segunda, em que se sentem autônomos, senhores e senhoras de si e do seu campinho, felizes. A terceira, quando ficam doidos pra pegar alguma pessoa mais exaltada ao telefone, para ir demonstrando que aprendeu as regras de sobrevivência ao telefone com louvor, dando entradas de fazer inveja a zagueiro central de time do interior gaúcho. E a quarta, no final do estágio, quando começam a tomar café na xícara do chefe, entre outras ousadias. É quando deixam saudades da equipe...

Os veteranos olham o currículo, avaliam, pensam, definem. Essa é a pessoa que vai estagiar. Felicidade, alegria, e os alertas. Lembramos que as pessoas que ligam para um órgão ambiental nem sempre são as pessoas mais felizes do mundo. Ao contrário, é mais fácil quem levou um auto de infração, uma notificação ou coisa do tipo ligar do que aquelas crianças legais que querem entrevistar os técnicos e fiscais do órgão para o trabalho do colégio, ou convidar pra ir na reunião da igreja, ou do condomínio, sei lá.

E ligam. E o cara que pediu aquela poda de árvore hoje às 9h01 quer saber, às 9h15 se os guris da equipe de Arborização Urbana estão com o Alvará de Manejo na mão. Bah, os guris são bons, mas não são deuses... E aquele cara que vem falar com um amigo influente "embaixo do braço", aquele papo do "veja bem, ele é dos nossos" de cara. E tem aquela pessoa que esbraveja, narinas parecendo exalar o fogo dos infernos, xingando qualquer pessoa que ousar dirigir um "bom dia"...Aí tá feita a caca. Deu aquele revertério legal...

Afinal, a primeira pessoa a ser contatada, quando todo esse pessoal bacana chega ao órgão é justamente, aquela pessoinha que, há pouco, irradiava alegria por conseguir aquele estágio com bolsa de fomento. De repente, o mundo se torna tão chocante quanto a cena da morte da mãe do Bambi, (com a diferença de que o pai do Bambi aparece pra cuidar dele...). E a pessoinha descobre que aquela senhorinha que ligou pode falar mais palavrões que chefe de torcida organizada em jogo clássico mal apitado! E que os xingões terão um alvo certo: a pessoinha que atendeu o telefone com um "bom dia", "boa tarde", tão sorridente que se percebe o brilho dos dentes lá do outro lado da linha!

Nesse caso, uma dica do veterano de guerra aqui: use o princípio de Binot, ou seja, respirar bem fundo e devagar, que a energia está no ar... Respira....tranca um pouco a respiração. Expira...e fala com aquela calma irritante para a criatura endemoniada do outro lado. Aquela calma de monge tibetano meditando. Isso desmancha qualquer criatura com o capiroto no corpo que queira transformar um contato telefônico num treiler de filme de terror. Demonstra inteligência, o que essas pessoas em geral não possuem... E manda ver, pois amanhã tem mais!! Boa sorte!!!!

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