comemorando a derrota

Sábado de noite. Foi duro de encarar a derrota do Grêmio para o Palmeiras, alavancada pela penosa atuação do sr. Tiago Mão de Alface... Derrotas não se comemoram. A menos que você esteja se referindo à Revolução (?) Farroupilha.

Aí fica toda aquela papagaiada de transformar latifundiários em heróis, falar na bravura voluntária (?) dos lanceiros negros, e por aí vai. Com uma pequena ajuda do professor Juremir Machado, o qual utilizo como uma de minhas fontes de pesquisa, vamos comentar o tema por nosso blogue-espaço, dando um chute no balde dessa cascata farroupilha.

Primeiro, a tal revolução não foi uma revolução. Revolução de verdade, popular, de gente pobre pegando em armas em nome de causas, só a Balaiada maranhense, por exemplo. A Revolução Farroupilha foi, na prática, um arremedo de guerra civil de estancieiros em defesa dos seus interesses de classe. Parte considerável da população, especialmente das principais cidades como Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande, não apoiava ou não estava nem aí para as "façanhas" da turma de seu Bento. A Revolução Farroupilha foi, portanto, conservadora. A "liberdade" ficava na retórica, pois a constituição farrapa não previu a abolição da escravatura, e ainda usou os negros como mão de obra militar no momento do aperto (tipo mandar pro front o escravo em lugar do sinhozinho rico) e os traiu em Porongos.

Aliás, os pobres negros traídos em Porongos foram, antes de tudo, os infantes, que lutavam com armas de fogo. Canabarro desmuniciou a infantaria na véspera do ataque de 14 de novembro de 1844 apesar de ser sabida a aproximação do adversário. Os lanceiros foram traídos, pois expostos a uma surpresa combinada com o adversário, mas, ao menos, tinham lanças e cavalos. Canabarro fugiu só de cuecas (visão do inferno...duro de imaginar a cena...) enquanto os negros eram mortos. Aliás, sobre os escravos, eles eram uma das fontes de dinheiro que financiava a guerra de Canabarro, Gonçalves e outros...

Bento Gonçalves, chamado pelo pesquisador Tau Golin de "herói ladrão" (para desespero dos tradicionalistas mais ferrenhos e estreitos) morreu rico, como prova o seu inventário, deixando mais de 50 escravos para seus herdeiros. A lenda dizia que ele tinha acabado a vida como o “mais pobre dos homens”. Sei...

Em dez anos de guerra civil, morreram entre 2900 e 3400 pessoas, uma média de 300 por ano, menos de uma por dia. Mesmo para a população da época, era mais fácil morrer de gripe. Praticou-se de tudo: estupro, degola, saque, apropriação de terras alheias e sequestro. Os farrapos receberam indenizações secretas do Império. Fontoura foi encarregado de fazer a distribuição do dinheiro no que chamou de “quatro dias do inferno”. A fome pelo dinheiro levou à apresentação de notas frias e uma disputa sem limites. Fontoura chamava Bento de infame. Depois dizem que a corrupção foi inventada pelos últimos governantes deste país...

Nunca houve um verdadeiro tratado de paz de Ponche Verde. Canabarro e Caxias não estiveram juntos às margens do rio Santa Maria para um aperto de mão e a assinatura de um documento de paz. É tão verdadeiro quanto o grito do Ipiranga (aquele do Dom Pedro com piriri...). A história é uma ficção reconstruída a cada geração, um encordear de mitos, lendas e falácias.

A Revolução Farroupilha foi utilizada para fins políticos, legitimando o poder de caudilhos. A criação de uma "epopeia" farroupilha não passa de manipulação para legitimar o poder às classes dominadoras. Só pra variar um pouquinho... Enquanto isso, os infantes negros armadilhados em Porongos mancharam a terra com seu sangue, ou seguiram rumo ao Rio de Janeiro, sabe-se lá para qual destino. Que façanhas!

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