"Tears in rain"

Me lembro do filme. Uma sessão no Baltimore, falecido cinema da Oswaldo Aranha, com aquela caminhada de volta pra casa na rua Santana, delirando com o texto e subtexto do filme.

Destaco nesse filme um solilóquio, feito pelo personagem Roy Batty, vivido pelo grandalhão Rutger Hauer. Após evitar a queda de Deckard, Roy fala, em meio a uma chuvinha:

"I have… seen things you people wouldn't believe… Attack ships on fire off the shoulder of Orion. I watched c-beams glitter in the dark near the Tannhäuser Gate. All those… moments… will be lost in time, like [tosse de leve] tears… in… rain. Time… to die…"

 Traduzindo de forma livre:

"Eu  vi coisas que sua gente nunca poderia acreditar... naves de ataque em chamas perto do escudo de Órion. Eu vi feixes de raios cósmicos brilhando no escuro perto do Portão de Tannhäuser. Tudo isso...momentos,...serão perdidos no tempo, como lágrimas na chuva,. Hora de morrer."

Quando eu escrevo, eu chego a imaginar o tema de Vangelis na mente...E lembro que o ser artificial, um dos replicantes que deveria ser morto por Deckard, salienta características humanas de sensibilidade, de medo da morte, de nostalgia... no final, ele era tão ou mais humano quanto seus criadores.

Pros novinhos, que nunca foram ver o filme original, nem o corte do diretor, nem o pegaram entre os clássicos de FC nas locadoras, um resuminho da obra-prima. O filme descreve uma linha de futuro em que a humanidade inicia a colonização do espaço, depois de detonar bastante a nave-Terra, por supuesto. Pra fazer o serviço sujo e pegar no pesado "em algum lugar no espaço" (como diria a abertura do desenho dos Herculóides), são criados OGM - organismos geneticamente modificados, chamados Replicantes (a banda do Gerbase tem esse nome em referência ao filme). Os replicantes eram um produto genético da Tyrell Corporation, que os vendia como sendo "mais humanos que os humanos".

A linha de replicantes Nexus-6 era de seres fisicamente idênticos aos humanos, porém mais fortes e ágeis. O problema é que os carinhas sintéticos eram muito instáveis emocionalmente, tendendo a desenvolver um comportamento agressivo. Por essas e outras, eles eram "programados" para um período de vida limitado a quatro anos (sem telomerase...).

Os caras eram pavio curto, e se amotinaram. Isso foi o suficiente pra banir os replicantes da Terra, sendo criada uma força policial especial denominada de blade runners para os caçar e "aposentar" os caras... aposentar um replicante é um eufemismo pra assassinato, em todo o caso...

No filme relata como um blade runner aposentado, o Deckard vivido pelo Harrison Ford, é levado a voltar à ativa para caçar um grupo de replicantes que se rebelou e veio para a Terra à procura do seu criador, para tentar aumentar o seu período de vida, escapar da morte que se aproxima ou ferrar com ele, não necessariamente nessa ordem.

Um a um os replicantes são caçados pelo Deckard. No entanto, ao longo do filme eles passam a exibir características humanas, enquanto os verdadeiros humanos que os caçam parecem adquirir, cada vez mais, características desumanas. No fim das contas, naquela cena que descrevi no  início da blogada, as questões que afligem os replicantes acabam se tornando as mesmas que afligem os humanos. Era impressionante ver o grandão gotejado de chuva, segurando um pombo, após ter resgatado Deckard de uma queda fatal.

Falar em Blade Runner é falar na condição humana. É falar de ver o diferente e respeitá-lo, de saber como conviver com os outros. É ter um retrato de 1982 de um futuro parecido com nossa realidade, 32 anos depois de seu lançamento. No filme, a globalização é tratada muito tempo antes de virar tese acadêmica. É, portanto, um alerta para um possível futuro de desumanização das pessoas, de degradação ambiental. Outro filme que nos alerta para um futuro ecologicamente insustentado, e do risco das grandes corporações dominando o mundo, é o glorioso Robocop. Tema pra outra blogada!

PS: vejam o filme! Pra dar um gostinho, aí vai a cena "tears in rain":
www.youtube.com/watch?v=NoAzpa1x7jU



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