Chassot e Van Helsing...

Ao ler o blogue do grande amigo e mestre Attico Chassot, vi que o mesmo esteve pela Romênia lá pelo dia 19 de janeiro. Só fico imaginando um encontro entre o mestre e outra figura acadêmica ilustre, porém fictícia, o holandês MD, PhD Abraham Van Helsing. Tá, quem colocou o Tico e o Teco pra funcionar, deve lembrar que Van Helsing é o nêmesis do conde Drácula na cinematografia clássica. Quem botar mais um pouco pra funcionar os neurônios, se dá conta que a Transilvânia, terra do chupador de sangue, fica na Romênia... Daí imagino a coisa, como redijo abaixo uma fictícia blogada do mestre Chassot:

Após o espetáculo que assistimos, caminhamos mais uma vez sobre muita neve até a cidade antiga para jantarmos sopas (para variar!). O curioso é que algo me impelira a colocar doses quase industriais de alho frito sobre os acepipes que nos eram servidos. Numa mesa próxima, um circunspecto cavaleiro acenou-nos. Educadamente, ele achega-se a nossa mesa, apresentando-se em impecável inglês com destacado acento britânico. No cartão de visitas, o nome: Abraham Van Helsing, docente holandês, médico e advogado, com sólida formação em Medicina Legal e Literatura Clássica. Enquanto discorríamos animada conversa sobre nossa vida acadêmica, chamou-me a atenção o crucifixo que teimava em aparecer do bolso do pesado casaco que o colega neerlandês envergava para aplacar o frio romeno. Cético que sou das lides místicas, me chamava o olhar o estranho adorno num homem de ciências. Confesso que deixou-me com a curiosidade em alerta.

Nos despedimos, não sem que o dr. Van Helsing colocasse no meu bolso um bilhete, escrito a punho próprio. Ali, em inglês, estava escrito: "Find me at Bulevardul Nicolae Bălcescu, in front of National Teatrul". Estranhei o bilhete. Após chegar ao quarto, falei a minha esposa que iria ver do que se tratava o bilhete do nobre e circunspecto colega.

Desci pesadamente agasalhado para enfrentar a nevasca romena. Meu exótico interlocutor lá me esperava. Eis que ele me confessa:
- Caro colega, preciso de seu auxílio para uma empreitada deveras complexa!
- Mas do que se trata, meu bom doutor?
- ELE está em Bucarest...

Ora, meu espírito cético custou a crer que o nobre doutor estava falando de uma das mais famosas lendas romenas. Com as mãos enluvadas, vi a foto que Van Helsing me apresentara...onde parecia faltar uma pessoa na cena.
- Sim, dr. Attico...o maldito está aqui, eu sei. Ele estaria na fotografia, não fosse ele um vampiro.

Sim, há esse detalhe importante a ser visto! Vampiros classicamente não são refletidos em espelhos e não é possível seu registro pictográfico em fotografias. Naquele instante, pude vislumbrar que estava diante do mais célebre caçador de hematófagos antropomórficos conhecido. Angustiado por pensar tratar-se de um mero mentefacto de minha imaginação, cumprimentei-o vigorosamente, e pude perceber que, em que pese sua provecta idade, era um homem deveras forte. Eis que dr. Van Helsing confidenciou-me outro segredo de sua longa existência:
- Amigo, precisei ser banhado num dos lendários Poços de Lazarus... a idade cobrava seu preço, e, ao saber de sua localização e existência, pedi a meu secretário que me imergisse num desses artefatos ocultos...

Outra surpresa diante de meus olhos. Não estou acostumado a ver o mundo com os óculos da mística ou do oculto, mas estava diante de duas soberbas lendas... Além do vampiro lendário, ligado ao príncipe empalador romeno, a pessoa de رأس الغول  também dava sinais de sua existência diante de minhas atônitas e presbíopes córneas! Rã's Al Ghul, a lendária Cabeça do Demônio! De um lado, o Dragão de Sangue, de outro, o lendário aspirante a conquistador, alquimista célebre de origem árabe... Era algo deveras surpreendente, sem dúvida.
Eis que começamos nossa jornada rumo às ruas da área central de Bucarest. Agora fazia sentido todo aquele alho que ingerira na refeição...de certa forma, o bom doutor estava me imunizando contra um ataque do nefasto bebedor de sangue transilvano! O gelado vento dizia a que vinha, dificultando os movimentos de quem nunca se banhara nos miraculosos poços de Lazarus. Eis que, de dentro do oco de plátanos, emergem morcegos...tive a certeza na hora de que encontráramos nosso nêmesis. Contudo, meu provecto interlocutor me informara que tratavam-se de meros Pipistrellus, morceguinhos paleárticos. Continuamos nossa jornada.

Eis que a noite nos traz uma nova surpresa. Vestindo pesadas roupas, um vulto dispara em nossa frente. Com habilidade surpreendente, Van Helsing arremessa água benta sobre o ser...já deduzia tratar-se do vampiro, quando o mesmo caiu. O célebre artefato da mística cristã tem efeito nocivo sobre o vampiro, em pleno sentido da palavra, como confirmam os espasmos do ente sobre o chão em neve... Eis que Van Helsing se preparava para desferir impiedosamente o seu golpe final, batendo com uma pequena marreta sobre uma pontuda estaca de madeira, quando o nobre transilvano clamou:
- Clemência...não ataco humanos há décadas...
- Explique-se melhor, ser das trevas - dizia Van Helsing, sem dar sinais de conter o malho sobre a pontuda estaca sobre o esterno de nosso malfadado oponente, nem tão formidável quanto imaginara.
- É que não moro mais na Transilvânia! Adquiri um apartamento onde me refugio na área central. Aqueles turistas estrangeiros me espantaram de lá, cavalheiros! As excursões barulhentas, maleducados, convenhamos...
- E o sangue em seus dentes, monstro?? - indignado, perguntou o colega holandês.
- É de um banco de sangue do Spitalul Univesitar...também compro carne de um açougue do Amzei Markt, de onde retiro os fluidos crus....E eu sou louco de beber sangue direto de pessoas? É AIDS, é hepatite, pelo menos eu tomo sangue certificado! E tem outra: imagina tomar um processo de outro morto-vivo!!!

A essa altura dos factos, a ideia de um banquete de carne crua e bolsas de sangue hospitalares me causava repulsas...ou seria meu estômago sendo agredido pelas doses industriais de alho? Ficara a dúvida. Só sei que me surpreendeu mais ver os velhos nêmesis trocando vigoroso cumprimento do que as peculiares justificativas do conde. Quem diria que o velho conde, o velho príncipe empalador, temido por turcos e outros povos da região, era uma vítima do rapineiro turismo a seus espoliados bens. Meu novo e sábio amigo me propôs um novo brinde, regado a um bom Sânge de Taur, vinho rubro nacional, aliás de cor adequada ao nosso pitoresco evento noturno... Não declinei, e sentei-me a ouvir histórias daqueles que por décadas foram figadais adversários, ora brindando à longa e provecta existência. Mais tarde, tive certas dificuldades em explicar à dona Gelsa de forma realista que passara parte da madrugada bucarestiana em companhia de um vampiro exilado e regenerado e um ressurrecto cientista neerlandês, degustando Sânge de Taur...



Nota: Abraham Van Helsing e o Conde Dráula são personagens criados por Bram Stocker. Ra's Al Ghul é personagem criado por Dennis O'Neil e Neal Adams para a DC Comics.

Comentários

  1. Amo as historias do Conde Drácula e Van Helsing, mais incluir o Prof. Chassot foi algo superientende, ficou muito legal. Parabéns

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  2. valeu, Jossiane! Em breve, mais misturas de amigos/as reais e personagens ou histórias da ficção!!

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