requentando um texto...o fato não é manchete, mas dá o que pensar sempre

(resgatado do blogue Doces Desatinos, by Andrea Pinto)

Filho duma puta‏


Iniciar um texto com um palavrão é esquisito pra caramba. Mas não encontrei jeito melhor de falar do terrível episódio que levou ao sujeito chamado Wellington Menezes de Oliveira, que, a troco de sua demência, de um surto paranóide ou patologia que o valha, disparou contra meninas tiros que foram fatais para doze das crianças alvejadas. Outras ainda estão feridas, algumas em estado bastante grave. Um sargento da PM o alvejou, certamente no intuito de neutralizar o celerado e levar à justiça o injustificável. Porém, a covardia falou mais alto, e o último alvo do sr. Wellington foi sua própria cabeça.

Como todo doido que se preza, o sujeito aí deixou um bilhete de despedida. Um bilhete em que ele tenta justificar o injustificável, entre delírios envolvendo religiosidade fundamentalista, um severo caso de aversão à sexualidade que o leva a considerar "impuros" os "fornicadores" (sempre lembro aos meus alunos de anatomia que o fórnice é o fundo da vagina, daí o nome dado a quem pratica o bom e velho sexo) e um gesto de apego aos animais. Em meio à maré de pânico, um atirador que sorria ao matar suas vítimas, ao melhor estilo do Coringa, Duende Verde e outros doidos que, até agora, pareciam restritos a páginas de gibi ou ao cinema. Infelizmente, Bob Kane e Stan Lee foram imitados pela realidade, a custo de vidas de brasileirinhos, como diria a dona Dilma.

Wellington pediu bom senso para as pessoas, ao solicitar que a casa onde morou nos seus últimos meses fosse doada a "pessoas generosas que cuidam de animais abandonados". Ainda no texto, o mesmo despeja uma verborrágica série de expressões, ao pedir bom senso às pessoas, como justificativa da doação da casa. Segundo ele, não doar a casa a uma ONG de cuidado com animais seria desrespeitar os pais dele. Como se um ataque insano a meninas e meninos fosse algo para reverenciar à memória paterna. Como se houvesse justificativa no ceifar sorridente de vidas de crianças.

E ainda tem a questão da pureza. Que pessoas não puras não poderiam tocar seu corpo imaculado. Que sua alardeada virgindade seria passaporte para o perdão de Cristo. Ora, o moço esqueceu de falar que Cristo amava pessoas sem distinguir virgens de meretrizes. Uma mulher "impura" lavou os pés Dele. Uma samaritana protagonizou a bela cena da fonte, onde Ele afirmava de que "se beber da água que lhe der, jamais terá sede...". Mais uma vez, um demente utiliza o Santo Nome em vão, tentando justificar a barbárie e as mortes.

O fato relatado pelas crianças de que ele atirava "nas meninas para matar, e nos meninos para machucar" indica um forte traço misógino. Talvez a rejeição da mãe biológica explique o traço de aversão ao feminino. Quem sabe um traço homossexual reprimido pelo fervor religioso fundamentalista. O que sabemos é que o infeliz matou sorrindo meninas. Imagino a dopamina percorrendo seu cérebro, freneticamente nas sinapses. Um frenesi digno de tubarões saboreando sangue na água. O louco em êxtase religioso e, porque não dizer, carnal, tendo seu macabro prazer de "justiçar" àquelas "impuras". Novamente, a aversão ao sexo, e em especial seu caráter misógino, espantam qualquer pessoa de bom senso e de bom caráter.

Mortos. Crianças mortas, vidas interrompidas, sonhos sepultados. Um maníaco fugiu da justiça pela forma mais covarde, roubando ao sargento Alves o direito de levá-lo à prisão, a julgamento e a uma cela. A morte foi um prêmio para a vida de Wellington. Não sou a favor da pena de morte. Ainda acredito que o ser humano pode se reabilitar. Contudo, mesmo meus sentimentos mais otimistas pela Humanidade vão por terra ao lembrar que doze vidinhas não terão a alegria de um diploma de conclusão de curso, não verão um filho nascer, não conhecerão a lenta e sábia história do envelhecimento. E, nessas horas, uma onda de raiva me faz pensar...e se o sargento tivesse fulminado aquele doente...será que o sentimento da sociedade teria sido realmente amenizado? Ficam as perguntas eternamente sem resposta.

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