Dona Marieta, curti!!

Tem uma atriz que me é muito simpática, tanto pelos papéis que ela já criou (Carlota Joaquina, Lucinha Araújo, dona Nenê, etc), quanto pela sua postura pública. Trata-se de dona Marieta Severo. Suas relações familiares ajudaram a dar um empurrãozinho na carreira, filha de um desembargador, teve as portas mais facilmente abertas... Em 1966, casou-se com um jovem e promissor compositor, um certo Chico Buarque de Hollanda. Dele, em 1968, é a peça musical Roda Viva, na qual trabalhou. A obra criticava abertamente o regime militar, e entrou na mira dos agentes da segurança nacional e na rota da porradaria generalizada.

Bom...veio o exílio, em Roma, as filhas Sílvia, hoje atriz (lembre da madrinha do Gonzaguinha no filme sobre Gonzagão e Gonzaguinha), Helena e Luíza, e a volta ao Brasil, e ao trabalho de teatro e teledramaturgia. O casamento com Chico durou até 1999. Atuou na montagem da Ópera do Malandro, tendo gravado com Elba Ramalho a canção O meu amor, da trilha da peça, revelando-se uma interessante cantora. Seu grande papel na telemídia é, sem dúvida, o remake da Grande Família, de Vianinha, na pele da simpática matriarca, dona Nenê. Também destaco a sua genial interpretação para a mãe de Cazuza, dona Lucinha Araújo, na cinebiografia do gênio Cazuza - o tempo não para. A cena em que ela fala do AZT até hoje me ressoa na mente...

Concordo, dona Marieta é  uma das mais competentes atrizes em todos os segmentos de atuação: o palco, o cinema e a TV. Chegou a ser convidada a interpretar a presidente da república, no filme homônimo baseado na obra A 1ª Presidenta, do escritor e jornalista Helder Caldeira. A pesada agenda a fez recusar o instigante convite.

Pois o motivo que me faz trazer o breve resumo da carreira de dona Marieta foi sua participação no programa de auditório do sr. Fausto Silva. Tenho saudades do tempo em que ele comandava o anárquico "Perdidos na Noite", da Bandeirantes...nessa época, ele parecia mais interessante, menos subserviente ao patronato marinho-platinado. Pois o dito gordinho a chamou, não para ouvir sua inteligência aguda, mas para, provavelmente, promover a novela na qual dona Marieta está atuando, no horário sonolento das 23h. E ele começa a tecer seus intermináveis discursos contra o atual governo, culpabilizando-o dos males nacionais, como de hábito. Aquela velha conversa mole sobre o Brasil não ter “estrutura”. "A única coisa organizada aqui é o crime". Somos “o país da desesperança”.

Como diria Sophia, "só que não". Marieta, fiel a si mesma, discordou com classe: “Não, eu sou sempre otimista”. “Pra mim, tem uma coisa muito importante: a inclusão social, a luta contra a desigualdade. A gente teve muito isso nos últimos anos. Estamos numa crise, mas vamos sair dela”. Criticando de forma equilibrada os que se dizem "evangélicos": “nada contra religião. Só não quero uma legislando a minha vida”, afirmou.

Outras declarações de dona Marieta inquietam os cocorocas de plantão, certamente: “sou contra a redução da maioridade penal e contra muita coisa que está em evidência e que, para a minha geração, é chocante”, disse a ex-senhora Buarque de Hollanda. “Eu sou da década de 1960, do feminismo, da liberdade sexual, das igualdades todas”.

Não é preciso dizer que a entrevista no Faustão não foi muito além do script. Marieta deu um recado importante no mesmo dia em que Mantega foi novamente hostilizado num restaurante de São Paulo. Nas redes sociais, os suspeitos de sempre a enxovalhavam por ter “defendido o PT” (ela, grande e elegante dama, não falou no nome do partido).

Eu sempre gostei do trabalho dela. Como grande dama das artes cênicas, deu um show e enquadrou o responsável pelo incremento de nossa vida cultural... sim, pois a cada vez que o tal Domingão vai ao ar, colocamos um DVD ou um Blu-ray para assistir algo mais interessante que os orrameu de plantão!

Diria Platão: “O sábio fala porque tem alguma coisa a dizer … o tolo fala porque tem que dizer alguma coisa.” Marieta falou e disse!

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