quando você foi embora....
Desde que comecei a
me interessar por música, um dos principais motores de minha sede
por MPBdaB era o Clube de Esquina mineiro. Aliás, sobre esse tema, o
mestre, maestro e amigo Paulo Dorfman me declarou outro dia “o mais
mineiro dos gaúchos”, pelo meu apego à fabulosa produção
daquela galera. Um dos principais poetas-letristas dessa safra de
gênios era Fernando Brant. Infelizmente, desde sexta-feira ele não
está mais neste nosso plano da existência...
Em
1967, Milton conseguiu convencer o então hesitante Brant a escrever
sua primeira letra. Em um pedacinho de papel, escrita meio no abafa,
movida à cervejinha noturna, na mesa da padaria São José, em Belo
Horizonte. As palavras de Fernando, para Bituca, não o dissuadiram. “Você está
louco, eu não mexo com isso não, rapaz”, “eu nunca mexi com
isso, sou teu amigo, eu gosto, mas não sei mexer com isso não,
nunca escrevi nada”, “mas, e se ficar ruim?” O papel na mão do
ainda não sabido compositor, que não tirava o papel da mão, e
Milton perguntando a ele o que era aquilo e ele falou “não é nada
não”. Uma hora Bituca falou: “Fernando, ou você guarda esse
papel ou deixa eu ver.” Ele deu. Deu também um acesso de dor de
barriga, pois foi correndo pro banheiro, de vergonha. Quando ele
voltou, era um compositor… e que compositor! Estrear com
“Travessia” de primeira obra não é pra qualquer um!
O nome da música saiu de outro mineiro, Guimarães Rosa, mais exatamente no livro “Grande Sertão: Veredas”. Na obra, a última palavra é justamente “Travessia”. O próprio Milton explicaria a escolha: “O importante não é a saída, nem a chegada, mas a travessia”. A composição, no mesmo ano, ganhou o segundo lugar no II Festival Internacional da Canção, no Rio de Janeiro. Aliás, pouca gente lembra da primeira colocada daquele festival ("Margarida", uma marcha-canção do Guarabyra, aquele mesmo do Sá e do Zé Rodrix!!!), marcado pela interpretação de Milton para o sucesso da dupla.
Fernando,
nascido Fernando Rocha Brant nasceu em Caldas, MG, em 09 de outubro
de 1946. Filho de pais mineiros, aos cinco anos mudou-se para
Diamantina e, aos 10, foi para Belo Horizonte onde passou o resto de
sua infância e adolescência. Aliás, como bom mineiro, buscou
aquela formação superior, se graduando em Direito pela UFMG. Seu
envolvimento com música e literatura aumentou quando cursava a
faculdade de Direito. Nessa época, conseguiu seu primeiro emprego,
como escrivão do Juizado de Menores. Também atuou como repórter da
sucursal mineira da revista "O Cruzeiro", em 1969. No
entanto, antes disso, lá no início dos anos 60, conheceu o amigo
Milton Nascimento. Aí começou...
O nome da música saiu de outro mineiro, Guimarães Rosa, mais exatamente no livro “Grande Sertão: Veredas”. Na obra, a última palavra é justamente “Travessia”. O próprio Milton explicaria a escolha: “O importante não é a saída, nem a chegada, mas a travessia”. A composição, no mesmo ano, ganhou o segundo lugar no II Festival Internacional da Canção, no Rio de Janeiro. Aliás, pouca gente lembra da primeira colocada daquele festival ("Margarida", uma marcha-canção do Guarabyra, aquele mesmo do Sá e do Zé Rodrix!!!), marcado pela interpretação de Milton para o sucesso da dupla.
Em
1967, participou do II Festival Nacional da Canção, da TV Globo, com
três canções escritas em parceria com Milton Nascimento: "Morro
velho" (linda toada de forte cunho social), "Maria minha fé" e, claro, "Travessia".
Em 1968, haviam tomado gosto pela coisa. A dupla participou do IV Festival de
Música Popular Brasileira, da TV Record, com a canção "Sentinela". A forte letra (aliás, dizem que foi
feita em homenagem a Che
Guevara), uma música belíssima, fora
defendida pelas baianas Cynara e Cybele, do Quarteto em Cy, as mesmas do "Sabiá" chico-jobiniano. "Sentinela".
Fernando Brant teve mais de 200 canções gravadas: além de "Travessia", é coautor de "Maria, Maria", "Promessas
do sol", "O vendedor de sonhos", "Canção da
América", "Saudade dos aviões da Panair (Conversando no
Bar)", "Encontros e despedidas", "Nos bailes da
vida" e "San Vicente", além de parcerias com outros músicos do Clube. "Manuel, o audaz", parceria sua com Toninho Horta, se refere a um velho jipe Land Rover, comprado por Fernando com um empréstimo feito junto à Caixa Econômica Estadual de Minas Gerais. "Paisagem na janela", de Lô Borges, "O medo de amar é o medo de ser livre", de Beto Guedes, "Canoa, canoa", de Nelson Angelo e outros, também têm versos de Fernando.
Infelizmente, o fígado de Fernando não resistiu a um câncer. Um transplante foi feito. O corpo já debilitado não reagiu bem.
Morte, vela, sentinela sou...qualquer dia, amigo, eu volto a te encontrar...
Ficamos órfãos, mais pobres culturalmente, sem o grande letrista...
Fica com Deus, poeta.
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