fim de tarde

Dei aula hoje praticamente o dia todo. Quando não dei aula, dei orientação. Quando não dei orientação, levei Sophia pra aula, numa rápida passada entre uma aula e outra, um local e outro. Falei por horas e horas, usei microscópio, brinquei desenhando e gastando a voz...

Me dei um presente hoje. Resolvi vir para um de meus velhos refúgios, o posto de gasolina perto da sede do jornal Zero Hora. Sempre considerei este lugar de onde escrevo como uma de minhas "fortalezas de solidão". Tá certo que (trânsito+jogo no estádio Olímpico+estar perto do Olímpico) não é uma boa equação para quem quer sossego hoje, mas vamos lá. O expresso vem na medida certa de sabor, cor e aroma, e nem mesmo o burburinho dos demais presentes me desfoca do meu hábito de escrever...

Preciso, de vez em quando, buscar um dos meus refúgios, sozinho, na companhia de idéias e do desfile de cores do por de sol porto-alegrense. Ver o azul-céu do dia ceder espaço a tons de laranja, roxo e outros é sempre um convite à meditação. Sou um sujeito aparentemente calmo, mas admito, minha mente por vezes voa longe, indo rumo a locais ainda não navegados pelo meu saber, pelos olhos e por meu ser.

Velhas sensações me povoam a mente hoje. Inquieto. Querendo ler o roteiro ainda não escrito pelo destino, mas sabendo que essas páginas podem ser escritas a várias mãos, com deuses e deusas que comandam a sina de nós, mortais, viciados na droga pesada chamada livre arbítrio e nem sempre simpáticos com seus efeitos colaterais.

Olho pela vidraça. O azul mais escuro se estende como um cobertor pesado, vindo da direção leste-oeste. Ainda há um topezinho alaranjado insistindo em dar seu ar da graça. O relógio do computador me lembra: volte para teu lugar, a sala de aula. Obedeço, ansioso por mais um mergulho num dos meus refúgios, na companhia da inquietude, do pensar e do sonhos...

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