cabeça, tronco e rodas
Como diria meu querido Raul Brenol Lages, sou desses seres humanos compostos por cabeça, tronco e rodas. É, em que pese minhas troteadas em esteira ocuparem cada vez mais tempo em minha semana, ainda me sinto um viciado adicto dependente das 4 rodas que me ajudam a alimentar o estresse de trânsito nosso de cada dia. Pois hoje os freios do Siena velho de guerra me deram um ultimato: ou ajeita ou abraça o poste. Como prefiro abraçar pessoas e bichos, e por não estar querendo dar dinheiro para o chapeador, me rendi ao mecânico com cara confiável mais próximo e deixei lá o Sophymóvel. Vamos lá.
Estranhei, para começar, ver meu carro sem as rodas, qual cadáver na aula de anatomia. Lá estava ele, dissecado, indefeso, suspenso em um macaco hidráulico, à mercê do mecânico. Veredicto: trocar frenagem traseira, velas, cabos de velas... Traumático, mas ainda sim menos complicado que uma porrada na traseira de um carro importado, num poste ou num muro. E ainda tem a vantagem de sair vivo da oficina, o que nem sempre é garantido quando se trata de um acidente a sei lá quantos por hora na BR116, minha nemesis favorita.
Também me senti perdido na hora de sentar no banco do lado. O motorista da oficina me deixou gentilmente na faculdade, onde microscópios, lâminas e alunos me esperavam. Aula. Almoço. Trabalho. Taxi. Ansiedade de ir buscar o bichinho.
Quando você fica a pé passa a ter outra perspectiva do Homo urbanus. Passa a sentir a força de suas pernas, o vento fresco de um dia quase primaveril de Porto Alegre, ouvir o burburinho urbano. Passa a ver o quanto ficas dependente das máquinas rodantes, a ponto de esquecer o jaleco de laboratório nele, afinal um carro, além de ser um meio de transporte, também é um arquivo móvel, um guarda-roupas ambulante, uma pequena mas eficiente biblioteca... Bom, aguardo o torpedo da mecânica. O veredicto. Está vivo. Pede alguns cuidados, que o orçamento irá adequar.
Busco o carro. Retomo minha posição de protegido em uma couraça metálica de pés emborrachados. Porém, com a certeza de que sentia falta de usar as pernas e pés para outra coisa que não fosse freio, embreagem e acelerador. Chegamos ao cúmulo de pagar para ter o direito de caminhar em uma esteira, a fim de não enrijecer articulações e entupir coronárias. Coisas da nossa "mudernidade"...
Nós, admirável gado novo que passa nos processos do futuro, nos desumanizamos ao virar a coisa híbrida carro-máquina, arremedo de Robocop, que é o Homo transitus. Quando você volta a usar as pernas, lembra de toda a fragilidade diante da idiotice dos que tornam o carro um objeto de poder, não um jeito de ir e vir dos lugares. Infelizmente, ainda sou um desses poucos que usa o carrinho para ter prazer e vida mais cômoda, e não para cometer doideiras e consumar uma catarse das frustrações diárias. Prefiro fazer do carro um prazer, não um objeto de delito...
Estranhei, para começar, ver meu carro sem as rodas, qual cadáver na aula de anatomia. Lá estava ele, dissecado, indefeso, suspenso em um macaco hidráulico, à mercê do mecânico. Veredicto: trocar frenagem traseira, velas, cabos de velas... Traumático, mas ainda sim menos complicado que uma porrada na traseira de um carro importado, num poste ou num muro. E ainda tem a vantagem de sair vivo da oficina, o que nem sempre é garantido quando se trata de um acidente a sei lá quantos por hora na BR116, minha nemesis favorita.
Também me senti perdido na hora de sentar no banco do lado. O motorista da oficina me deixou gentilmente na faculdade, onde microscópios, lâminas e alunos me esperavam. Aula. Almoço. Trabalho. Taxi. Ansiedade de ir buscar o bichinho.
Quando você fica a pé passa a ter outra perspectiva do Homo urbanus. Passa a sentir a força de suas pernas, o vento fresco de um dia quase primaveril de Porto Alegre, ouvir o burburinho urbano. Passa a ver o quanto ficas dependente das máquinas rodantes, a ponto de esquecer o jaleco de laboratório nele, afinal um carro, além de ser um meio de transporte, também é um arquivo móvel, um guarda-roupas ambulante, uma pequena mas eficiente biblioteca... Bom, aguardo o torpedo da mecânica. O veredicto. Está vivo. Pede alguns cuidados, que o orçamento irá adequar.
Busco o carro. Retomo minha posição de protegido em uma couraça metálica de pés emborrachados. Porém, com a certeza de que sentia falta de usar as pernas e pés para outra coisa que não fosse freio, embreagem e acelerador. Chegamos ao cúmulo de pagar para ter o direito de caminhar em uma esteira, a fim de não enrijecer articulações e entupir coronárias. Coisas da nossa "mudernidade"...
Nós, admirável gado novo que passa nos processos do futuro, nos desumanizamos ao virar a coisa híbrida carro-máquina, arremedo de Robocop, que é o Homo transitus. Quando você volta a usar as pernas, lembra de toda a fragilidade diante da idiotice dos que tornam o carro um objeto de poder, não um jeito de ir e vir dos lugares. Infelizmente, ainda sou um desses poucos que usa o carrinho para ter prazer e vida mais cômoda, e não para cometer doideiras e consumar uma catarse das frustrações diárias. Prefiro fazer do carro um prazer, não um objeto de delito...
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