sementes e suas lições para a gente
Pois é, minha comadre, a reverenda Cris Capeleti, pediu um texto sobre sementes, para embasar uma liturgia que ela fará. Beleza, compadre é pra essas coisas!
Sementes aparecem filogeneticamente nas plantas a partir das Gimnospermas, ou seja, os pinheiros
e ciprestes, que apresentam as sementes sem um fruto verdadeiro, como
são as Angiospermas. O pinhão é uma semente, e não uma fruta. Sementes apresentam a futura plantinha dentro de
si, dormente, na forma de um embrião, esperando a hora certa de emergir,
de germinar. Elas carregam consigo uma reserva rica de nutrientes para
aguentar o tirão, na forma de amido ou de óleo, ou, como lembra o professor Angelo Cortelazzo, meu professor na UNICAMP na época do mestrado, há vários polímeros de açúcares diferentes servindo como reserva, além do conhecido amido. Cada tipo de semente apresenta uma quantidade e um tipo de reserva diferente.
As sementes usam diferentes estratégias para virar nova planta. Algumas estão em frutos comestíveis, como as sementes
de figueiras, que são disseminadas pelos passarinhos que comem e
descomem esses frutos, semeando as futuras figueiras. Outras, são
espalhadas pelo vento, bailando pelos ares, como as paineiras,
ou a singela sementinha do dente-de-leão, aquela que as crianças amam
soprar. Tem aquelas que caem das vagens, como os feijões, o flamboyant, as corticeiras de banhado, que também chamam de mulungu.
Algumas sementes precisam "apanhar", sofrer, para germinar, para quebrar o que chamamos de dormência. O Gilberto
Gil que falava que a semente "tem que morrer pra germinar", e, de certa
forma, não está lá tão longe daquilo que a Botânica explica. Ela, a
futura plantinha, está lá na semente, como que "dormindo", aguardando
que tenha condições adequadas de umidade e temperatura lá fora. Muitas
só quebram essa dormência mediante frio, muito frio. Ou calor, muito
calor úmido. Depende da espécie. Outras sementes precisam da abrasão das
pedras, ou da lixa de um jardineiro experiente, para romper essa dormência. Os botânicos chamam esse processo de escarificação, e às vezes utilizam algum ácido forte para ajudar.
A força da semente está no embriãozinho ali guardado. Ele irá usar os recursos da sua reserva, seja de óleo ou de
açúcares, para ter a energia e vencer as barreiras que a isolam do meio
externo. Em algumas espécies, essas barreiras são facilmente rompidas,
como nos feijões que as crianças botam a germinar em algodão umedecido.
Em outras, como o caso da graviola, há que dar uma gelada nela, em água
fria, para quebrar a dormência e garantir a germinação. O flamboyant precisa de uma escarificada, de uma lixada, ralar mesmo, para germinar mais fácil.
Muitas sementes "apanham" para poder virar plantinha. Nem sempre a vida é fácil para elas. Mas, quando germinam,
quando a água as acessa na dose certa, elas ativam seu metabolismo, sua
vitalidade, e passam a germinar, e crescer, e virar planta adulta, e
dar suas flores, frutos e novas sementes. A parábola do Semeador,
escrita no evangelho de Lucas, descreve bem o processo, muito tempo
antes de alguém sonhar em usar um microscópio, um laboratório, uma
estufa de plantas. Jesus nos narra a história do semeador e o destino
das sementes, conforme o terreno onde germinam. De que vale quebrar a
dormência se o solo é pedregoso, inviável à futura planta? Mas em solo
fértil, acolhedor, a dormência se quebra e a plantinha gera nova planta,
novas flores, frutos e sementes...
Quem na se encanta com um cumpadre assim
ResponderExcluirAgradeço o excelente texto já embarcado em Guarulhos rumo à Manaus.
Saudades