pra refletir...

Curto muito Rita Lee. Desde as coisas da época dos Mutantes, a carreira solo, de "José", "Ovelha Negra", "Mania de Você" (cantada com o Bituca, é música de ouvir de joelhos!), tem muita coisa bacana que a cantora botou a voz, a caneta e as notinhas. Pois ela declarou recentemente como foi sua saída dos Mutantes. A expressão melhor é "como foi saída". Segundo ela declarou, Arnaldo Baptista teria dito que "a gente resolveu que a partir de agora você está fora dos Mutantes porque nós resolvemos seguir na linha progressiva-virtuose, e você não tem calibre como instrumentista". "Uma escarrada na cara seria menos humilhante", falou Rita. E segue: "em vez de me atirar de joelhos chorando e pedindo perdão por ter nascido mulher, fiz a silenciosa elegante. Me retirei da sala em clima dramático, fiz a mala, peguei Danny (a cadela) e adiós. No meio da estradinha da Cantareira (a banda tinha uma casa por lá), parei no acostamento e chorei, gritei, descabelei, xinguei feito louca abraçada a Danny, que colaborava com uivos e latidos."

Pausa.

A musicalidade, a inteligência, as sacadas de humor refinado da titia Rita são únicos e necessários. Não foi à toa que Chico Buarque citou-a em "Paratodos", junto a Nara Leão, Gal Costa, Maria Betânia e Clara Nunes. Sua importância, ao meu ver, vai além de ter ligado o rock à MPB, de mesclar a bossa nova e levadas bem brasileiras a um rock n'roll que faz bonito em qualquer lugar do mundo. Cantora de voz bossanovista, como Nara Leão e outras musas da voz pequenina mas bem colocada, faz de suas letras petardos ácidos contra a hipocrisia da sociedade brasileira.

Pausa dois.

O ato dos irmãos Baptista é de uma crueldade, uma sacanagem, uma arrogância, que seria dispensável para músicos tão geniais. Não precisavam de um ato tão babaca para manchar sua trajetória musical.

O pior é ver que, muitas vezes, há esse comportamento discriminatório em músicos, julgando seus pares do alto de pedestais por si criados para incensar seus egos altamente infláveis e inflamáveis.

Já vi muita gente boa ser discriminada pela "falta de virtuosismo" alegada. Para esses babacas, repito Lupi: "esses moços, pobres moços, ah, se soubessem o que eu sei...".

A moça da foto acima, desprovida de virtuosismo instrumental na palavra dos irmãos Dias Batista, mas uma virtuose do pensamento e das sacadas inteligentes, foi clicada por Galeno Pupo, tio da nossa parceira Cecília Prado...lindo registro histórico em trocentos tons de cinza, da mais completa tradução de Sampa, segundo Caetano Veloso, 1978, e Luiz Tatit, 1998

Quanta gente boa não teve seus sonhos na música e outras áreas abatidos a tiros por declarações desse tipo? Quem é alguém pra dizer-se semidivino e julgar alguém assim? Fica a pergunta...

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