não entenderam o espírito da coisa...
"Tá vendo aquela igreja moço?
Onde o padre diz amém
Pus o sino e o badalo
Enchi minha mão de calo
Lá eu trabalhei também
Lá sim valeu a pena
Tem quermesse, tem novena
E o padre me deixa entrar
Foi lá que Cristo me disse
'Rapaz deixe de tolice
Não se deixe amedrontar
Onde o padre diz amém
Pus o sino e o badalo
Enchi minha mão de calo
Lá eu trabalhei também
Lá sim valeu a pena
Tem quermesse, tem novena
E o padre me deixa entrar
Foi lá que Cristo me disse
'Rapaz deixe de tolice
Não se deixe amedrontar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar'"
Enchi o rio fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar'"
Essa música, gravada por Zé Geraldo, era muito cantada nos encontros ecumênicos dos anos 80. Um tema bem popular, onde um operário da construção civil relata sua saga. Do não poder morar nas casas que constrói, de seus filhos e filhas não poderem aprender a ler e escrever nas escolas que edifica, mas da guarida que a igreja lhe dá, festejando nas quermesses, pedindo e penitenciando nas novenas, acolhido por um padre que entendeu o que Cristo quis dizer. Aliás, o Próprio fala com o cantor, encorajando-o e falando que não pode mais entrar na maioria das casas das pessoas... Tem muita igreja por aí que parece seguir na contramão essa lógica. Parece que pobres são só para fazer quotas, para limpar consciências sujas, para fazer um teatro de "caridade", e não de transformação social. Cristo fala nessa transformação, não em proselitismo nem corocoquices do tipo.
Vejo nesta época de Natal igrejas cheias de pessoas vazias. Que só procuram o espaço sagrado para marcar ponto de cristão e exibir roupas caras e sorrisos plastificados. Parece que o Natal se torna um compromisso para com a sociedade, para aparentar o que não se é, gastar o que não se tem, comer o que não se pode (ou nem se gosta), beber além do que o fígado tolera e representar uma esquete onde as pessoas fingem ser o que nunca sonharam ser. Cristo é, felizmente, maior que isso tudo...
Penso muito na canção de Zé Geraldo nessa semana que antecede o Natal. Cristo nasceu numa época danada, em pleno censo romano, alguns dizem que ordenado por Quirino, outros por César Augusto, dizem que Herodes, o que ordenou o massacre de inocentes, teria morrido no ano 4 a.C. (ou seja, antes Dele ter nascido...). Dizem que o censo no inverno seria impopular, algo que os romanos talvez não o fizessem. A essa altura do jogo, prefiro dizer que a tradição e a ciência não necessariamente andam de mãos dadas. O que importa não é o purismo da data, mas o comemorar o nascimento Dele, que teve como primeiro bercinho um cocho de colocar feno para animais, popular manjedoura. É, é bonitinho imaginar a manjedoura, mas era um cocho de colocar palha pra bichos, babado, com cheiro estranho...e Ele foi ali colocado, pois não teria onde se acostar após um parto (aliás, em que condições o parto Dele, hein?).
Para lembrar uma data que é mais fruto de tradição que de registro histórico, onde comemoramos o nascimento do Cristo (sabemos que o mais importante para a fé cristã é a Páscoa, a Sua ressurreição), justo daquele que dizia que era "mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus", vemos uma avalanche de comerciais e apelações ao comércio e ao consumo. De olho no dinheiro das pessoas, como abutres diante de um animal agonizante, os comerciantes tentam fazer que as pessoas sigam sua procissão penitencial aos shoppings e grandes lojas. Comilanças pesadas, bebida, tudo em nome de uma festa "cristã".
E o mais legal é saber a origem do 25 de dezembro.. Em Roma, o 25 de dezembro foi popularizado em 354
pelo papa Liberius e tornou-se regra no Ocidente em 435, quando a
primeira “missa cristã” foi oficiada pelo papa Sixtus III. Ela
coincidiu com a data de celebração de Mitra, popular deus-sol persa supostamente nascido no
mesmo dia. O escritor católico romano Mario Righetti, de forma simpática, admite que, “para facilitar a aceitação da fé pelas massas pagãs, a
Igreja de Roma achou conveniente instituir o 25 de dezembro como a festa
do nascimento de Cristo para desvinculá-la da festa pagã, celebrada no
mesmo dia em honra ao Invencível Sol Mitra, o conquistador das
trevas”. Faz um pouco de sentido, afinal até hoje chamamos ao Cristo de "luz do Mundo"...
A mensagem de Cristo é muito maior do que todas as baboseiras que fazem por aí violando Seu santo nome, usando-o para justificar massacres, preconceitos, picaretagens e canalhices do tipo. Cristo tem uma mensagem de amor, de justiça, de paz, muito maiores que o entendimento dos que manipulam as escrituras ao seu bel prazer. Comemorar o nascimento dele em dezembro, julho ou seja qual for o mês, tudo bem. O que importa é que se saiba sempre o verdadeiro sentido do Natal, da vitória da vida sobre a morte, do improvável triunfando sobre a opressão, sobre as forças do mal. O Cara que acolhia crianças, que respeitava as diferenças, valorizava quem "estava do seu lado", dava espaço à mulher, promovia, através das lendárias curas, as pessoas com deficiência...esse Cristo é maior que a maioria das igrejas, sem dúvida!
Que a luz que desperte os homens e mulheres seja o Cristo nascendo entre todos e todas (licença poética ao amigo Ciro Fabres, cujas palavras tomei emprestadas aqui...)!
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