Sophia e Tibicuera

Diria Veríssimo, o pai:
Um espírito alegre e são vence o tempo, vence a morte. Tibicuera morre? Os filhos de Tibicuera continuam. O espírito continua: a coragem de Tibicuera, o nome de Tibicuera, a alma de Tibicuera. O filho é continuação do pai. E teu filho terá outro filho e teu neto também terá descendentes e o teu bisneto será bisavô dum homem que continuará o espírito de Tibicuera e que portanto ainda será Tibicuera. O corpo pode ser outro, mas o espírito é o mesmo. E eu te digo, rapaz, que isso só será possível se entre pai e filho existir uma amizade, um amor tão grande, tão fundo, tão cheio de compreensão, que no fim Tibicuera não sabe se ele e o filho são duas pessoas ou uma só.” (Veríssimo, E., 1937)

Ontem, fui buscar Sophia no culto, para que viesse almoçar com a gente, afinal era meu aniversário. Claro que ela pediu que a levasse de volta à igreja para as atividades que ocorreriam ainda naquele domingo. Naturalmente, após pensar que “eles não tinham outro dia pra se reunir?”, levei-a, de barriguinha cheia, comida vegetariana que ela gosta, calibrada no forte café passado por Karina na máquina, de volta ao templo.
 
Como minha mãe estava junto, logo vieram as conversas de um Carlos Augusto adolescente, mais ou menos na faixa de Sophia hoje. É inevitável que a coisa descambe por algum literaturês numa hora dessas. E logo me lembrei de Érico Veríssimo, como no texto acima.
 
Senti a Sophia continuando o que eu fizera por tantos anos, e que minha mãe também o fizera. Dedicar boas horas a estar na Igreja Metodista, de papos e cantos, ainda que em outros tempos, sempre me remete ao tempo em que saía do almoço em família e ia encontrar pessoas que, muitas, ainda hoje chamo de amigos e amigas. Fosse para tocar, para alguma reunião, ou mesmo para aquele joguinho de vôlei onde sobrava entusiasmo e faltava qualidade, tudo estava valendo. Confesso que viajei ao tempo, quando os 5.1 eram 1.5, e me dei conta de quem de certa forma, ali estava eu, continuidade tibicuerana patrocinada pela genética. Um ser com 50% de genes originários deste aqui estava lá, e, de certa forma, eu estava lá. E a filha se torna continuação do pai, assim como o filho de sua mãe, no passado. Logo, minha outra parte tibicuerana estará nessa, a Clarinha. A coisa continuará vindo e indo, nas marés do tempo.

Agora, vivo o momento tibicuerano com Sophy. E a filha se torna o pai, e ambos são uma só pessoa. A bênção, mestre Érico!

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