sobre a (de)formação acadêmica

Uma das coisas que mais me deixa indignado com o ensino, e em especial com o ensino superior particular, é aquela mania triste que os coordenadores e coordenadoras tem de achar que as disciplinas básicas podem ser ministradas "por qualquer um". 

Mentira.

Eu tenho formação na área básica das ciências da Saúde, como mestre em Biologia Celular e Estrutural. E olha que meu mestrado não foi no botequim da esquina, foi na UNICAMP, uma instituição respeitada no país, no continente, no mundo. Lá lecionaram ninguém menos que Paulo Freire, Rubem Alves, César Lattes, Marcelo Rubens Paiva, Maria Conceição Tavares, Benedicto Vidal, Aloysio Mercadante, Paulo Renato Souza.. só gente muito qualificada. Tive aula com gente que recebeu título de Professor/a Emérito por aquela casa, tá pensando o quê?

Há muitos bons cursos de pós-graduação que investem em formar quadros especializados na área básica, não só da Saúde, mas de outras tantas carreiras. Sem o conhecimento básico, quer seja de Anatomia, Histologia, Biologia Celular, Cálculo, Teoria Geral da Administração, Teoria Geral do Direito, Teoria Econômica, Teoria e Percepção Musical e tantas outras disciplinas que apavoram os incautos bixos, nada vai adiante. Imagine um professor de Educação Física que não conhece articulações, músculos e ossos, e inventa de sobrecarregar com pesos inimagináveis um aluno ou aluna, lesão certa!! Ou quem sabe uma profissional de Enfermagem que não tenha tido adequada formação em relação à localização de vasos sanguíneos e nervos e se mete a aplicar uma IM na região glútea do (im)paciente, acertando-lhe o nervo isquiático, vulgo ciático...o risco de ter sérios problemas para caminhar (e sentar) é sério!

Infelizmente, acima de critérios técnicos, científicos e profissionais, estão outros interesses, muitas vezes não muito nobres, beirando o escuso, que norteiam os processos de indicação de docentes. O famoso "veja bem" pesa mais do que a competência e o conhecimento técnico-científico. Sou biólogo, mas não me atreveria a dar palpites em determinadas áreas de minha profissão que, com certeza, requerem conhecimentos mais aprofundados do que aqueles que busquei. Humildade ajuda a ver onde estão os limites e quais são as potencialidades. Se preciso reconhecer uma serpente, com nome científico e classificação filogenética, por exemplo, recorro à querida e competente herpetóloga Márcia Renner, que tem um grande domínio do tema. Saber dos seus limites pessoais e valorizar as potencialidades de colegas enobrecem a profissão docente e qualquer profissão, diga-se de passagem.

Se houvesse uma correta avaliação das IES sobre quem lecionar qual disciplina, provas como o temido ENADE seriam bem mais tranquilas do que o são, e haveria menos gente subcapacitada sendo lançada ao mercado... Dá pra pensar!

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