ecos do 31 de agosto
Ainda no eco do 31 de
agosto de 2016 com cara de 31 de março de 1964, chegam as notícias
das quebradeiras, a bancos, empresas privadas, lixeiras, o escambau, em Porto Alegre e várias cidades. A
imprensa, naturalmente, imputa a culpa do ato impensado à esquerda
revoltada, irresponsável e arruaceira, que tem mais que tomar
borracha no lombo, esse bando de comunistas, anarquistas, vagabundos
e por aí vai.
Pausa.
Viajo no tempo, para
1980. Primeiro de Maio. No que deveria ser um simulacro de ação dos
“subversivos comunistas esquerdistas que odeiam o Brasil e tem mais
que tomar borracha no lombo, choque na genitália e pegar o rumo de
Cuba, rola um show sensacional e uma bomba explode no Riocentro. O
atentado contava com diferentes equipes para executá-lo e fazer com
que parecesse obra de militantes subversivos comunistas anarquistas
vagabundos marxistas ateus de esquerda contrários à ditadura, ops,
governo ungido por Deus, família e propriedade para tirar o nosso
amado Brasil das garras do fantasma comunista.
A ideia da “inteligência
militar” era óbvia: que as quatro bombas levadas fossem explodidas
para gerar pânico entre os presentes ao show do “Dia do
Trabalhador”. A intenção era que o ataque repercutisse na opinião
pública a necessidade de maior endurecimento e tome borracha no
lombo e choque nas partes íntimas. Pra frente, Brasil...
Os artefatos estavam num
Puma, dirigido pelo proprietário, então capitão Wilson Luiz Chaves
Machado (codinome “Dr. Marcos”) e com o sargento Guilherme
Pereira do Rosário (codinome “Agente Wagner”) no banco do
passageiro. O xabu se deu quando a bomba (mal) manuseada por Rosário
bisonhamente explodiu no colo do sargento. Além de ferir gravemente
o motorista, destruiu portas e para-brisa do carro, decepou as mãos,
pênis (ui!) de Rosário, estraçalhou sua barriga e arremessou
pedaços de seu corpo a uma distância de mais de 30 metros. Caco de
sargento pra tudo que é lado...
A tal bomba explodiu por
volta das 21h20. O barulho não foi percebido pelo público dentro do
auditório, onde se apresentava a cantora Elba Ramalho. Minutos
depois, uma segunda bomba explodiria na casa de força do Riocentro,
mas não foi suficiente para cortar a energia. O cale-se de Cálice,
imposto a Gilberto Gil e Chico Buarque, não se repetira. Ao final do
show, o cantor Gonzaguinha informou à plateia: “Pessoas contra a
democracia jogaram bombas lá fora para nos amedrontar”.
Na época, os milicos
culparam uma organização denominada VPR (Vanguarda Popular
Revolucionária) pelas bombas. O tempo mostrou a natureza verdadeira
do atentado, culpabilizando toda uma cadeia de comando, que imaginava
que, ao culpar grupos de esquerda, haveria clima para uma retomada á
linha dura militar. O tempo provou que o regime ditatorial estava
agonizando.
Voltamos a 2016.
Quando vejo situações
como a quebradeira de ontem, imagino: será que não há algum dedo
podre por trás disso? Algum oportunismo, gente se aproveitando do momento para praticar o ilícito, ou ainda alguma tentativa de fazer
da esquerda a “malvada da vez”, colocando que os apoiadores da
presidenta deposta são um bando de baderneiros, que a esquerda é
irresponsável, etc? Aprendi a não duvidar de nada. Não digo que A,
B ou C são culpados, para tal precisaria estar bem fornido de
provas, longe de mim cometer essa irresponsabilidade. Agora, que a
coisa toda tem lá os seus paralelos históricos, isso é vero...
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