deixai vir a mim as crianças...
Me lembro quando minha mãe era aluna do curso de Filosofia da PUCRS, e eu, com cinco anos, muitas vezes saía da escola onde estava e era entregue a ela, que estava em aula. O professor Annuncio João Caldana, que ministrava Ética, me acolhia, assim como os/as colegas de minha mãe. Lembro de colegas levando brinquedos, e do prazer que era ir para o final de aula de minha mãe. Graças a esse pessoal, muito do meu amor pelo ambiente de sala de aula foi plantado em meu ser, e sou grato a todo esse povo bonito!
Pausa. Assim como a então aluna Laís Madalena Borba Normann, a hoje aluna Nina Bitencourt mora em Porto Alegre. Ela
estuda de Letras, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS). É mãe da pequena Anya, de cinco anos. Bravamente, Nina segue, mãe e estudante, e continua na universidade. Mas, infelizmente, na última quinta-feira, por uma zebra do destino, Nina precisou levar a filha para a sala de
aula. Contudo, a professora da disciplina não reagiu bem à presença de Anya. A mãe
compartilhou um relato sobre o episódio no Facebook. O texto já tem mais de 11 mil compartilhamentos.
Num relato emocionante e emocionado, Nina conta: “A maternidade e o quanto ela causa a exclusão da mulher no mercado
de trabalho, na escola e na universidade é uma pauta que grita por
visibilidade dentro dos movimentos sociais. Eu vou perder a cadeira, não
tem condições de seguir assistindo aula com uma pessoa dessas. O que
alguém assim pode me ensinar? Entrei grávida na universidade e estou 4
semestres atrasada do meu tempo de ter me formado, porque sou mãe e
preciso trabalhar nos horários que a UFRGS disponibiliza as aulas. O
questionamento que quero deixar com esse breve relato é: Quantas mães
não assistiram aula por causa dos seus filhos hoje? Quantas mães não
conseguiram emprego por causa dos seus filhos hoje? E quantas mais serão
excluídas por serem mães amanhã?”
Bom, eu sigo aquele palestino barbudo que dizia para que as crianças se aproximassem dele, e que delas era o Reino de Deus. Que oportunidade essa toupeira com titulação acadêmica perdeu de se mostrar grandiosa e solidária! Essa anta diplomada, esse Bolsonaro de saias, ainda se exaltou diante da Comissão de Graduação do curso, e ainda afirmou que a menina "atrapalhava a aula" por estar brincando... Bom, se uma pequena como Anya estivesse recitando Camões, eu me espantaria. Crianças brincam, doutora professora, sabias? Ou faz tanto tempo que foste criança? Deve ser isso...
Como professor, muitas vezes tive a ilustre visita de pequenos e pequenas, vindo com mães por vezes desesperadas por não ter com quem deixá-los/as. A acolhida fazia toda a diferença, e, muitas vezes, dava um jeito de incluir o "novo/a aluno/a" no esquema da aula, tornando a atividade didática para quem estava em sala, e divertida para a pessoinha.
Deixai vir a mim os/as pequeninos/as. Não fui eu quem escreveu isso agora. Dr. Lucas já havia escrito, quando contou da vida do carpinteiro de Nazaré. Pelo jeito, a docente não lembra dessas coisas. Pena. Perdeu a chance de um gesto de grandeza e, de quebra, ganhou um processo de assédio moral no lombo. Lamentável... Força, Anya e Nina! NÃO DESANIMEM!!
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