refletindo o 31 de março

“quero trazer à memória o que me pode dar esperança” (Lamentações de Jeremias, 3.21)

 

Hoje é 31 de março. Para fugir da data considerada Dia da Mentira, os tiranos de 64 trocaram a data do Golpe, chamado por eles de Revolução.

 

Hoje é dia de luto por aqui. O tempo cinzento parece solidarizar-se com o pensamento naqueles e naquelas que pereceram, que sofreram tortura, que amargaram o exílio. Hoje penso em como alguém pode torturar crianças para arrancar de seus pais "verdades"... Vejo esquecida a corrupção, as mega-obras que permitiram o enriquecimento de empreiteiros e milicos da linha dura, o descaso à Saúde, as negociatas, a super-inflação...

Há muitas viúvas dos golpistas. Gente egoísta/golpista, focada em sua realidadezinha pequeno-burguesa, acalentada pelas novelas e noticiários tendenciosos. Tenho vergonha dos religiosos que abraçaram a causa do golpe, num absurdo sentimento anti-comunista que havia nas mentes direitosas. Ora, se um latifundiário como Jango pudesse ser comunista... Trabalhista de primeira hora, Jango lutava pelas reformas de base, não para criar uma URSS tropical. Foi o gatilho para a imprensa mal-intencionada, apoiada por JFK e a CIA, pelo que havia e há de mais podre na humanidade... e tome Magalhães Pinto, Delfim Netto, Emílio Medici, Castello Branco, Costa e Silva, e toda essa catrefada que se beneficiou do golpe.

Sangue derramado. Muita gente inocente perdendo vida, perdendo saúde, pedindo a saída do país, em meio a desespero, em meio à desestruturação de suas psiquês... O gesto desesperado de famílias separadas pelo tacão militar, pela mentira institucional, pela imprensa golpista, levando pais e filhos/as a uma separação dolorida.

Na Bíblia, vemos, no livro das Lamentações, o trecho: “quero trazer à memória o que me pode dar esperança”. Assim escreveu Jeremias,em meio à destruição de seu povo, ao exílio forçado...Assim, trazemos a esperança, de que nunca mais tenhamos uma ditadura a se instalar em nosso quintal.