guarde o nome desse amigão peludo (ou: um final feliz!)
Pastor Maremano Abruzês. O peludo acima, com um inusitado amiguinho. Essa é uma raça típica de cão pastor, desses usados para guardar rebanhos. O simpático peludão é descendente de outras linhagens de cães pastores europeus como o Karabash, Akbash (Turquia), o
Kuvac (Eslováquia), o Kuvasz e o Komondor (Hungria) e o Cão dos
Pirineus, da França. Embora seja visto regularmente na Grã-Bretanha,
essa raça ainda é rara em países fora da Itália. Não é uma raça muito
propensa ao treinamento de obediência, mas é um excelente guarda para
rebanhos.
O bicho virou herói para outros animais, longe da Europa. Na Austrália, ao longo de sua colonização, os europeus tiveram a ideia "brilhante" de levar animais para lá, pelos mais variados motivos. Assim, coelhos, raposas, lebres, gatos, porcos, vários cervídeos, dromedários, até o brasileiríssimo sapo-cururu, foram levados para a ilha. O resultado era previsível. Deu um tremendo impacto sobre a peculiar fauna local. Originalmente, a Austrália possuía uma gigantesca diversidade de Marsupiais de todo o jeito e feitio. Além dos cangurus e coalas, mais famosos, dezenas de outras espécies de Marsupiais viviam na ilha. Havia ainda uma bela avifauna, incluindo desde os enormes emus até os simpáticos pinguins-azuis (Eudyptula minor), os menores do mundo, diga-se de passagem, do alto de seus 30 cm de (pouca) altura. Esses baixinhos aquáticos são exclusivos daquele canto do mundo.
Muitos bichos endêmicos da Austrália foram extintos pelo impacto causado pelos predadores introduzidos, em especial raposas (levadas para controlar coelhos e lebres e para caça esportiva) e gatos. Sem predadores, os carnívoros avançaram sobre marsupiais e aves, dizimando espécies inteiras.
Um dia, a manchete de um jornal de lá fala no massacre de raposas sobre as colônias de pinguins-azuis. De 800, apenas dez pinguinzinhos restaram em Middle Island, no estado australiano de Victoria. Os pequeninos nadadores de fraque com os dias contados, devido ao impacto das espertas invasoras peludas. Até que um criador de frangos, Swampy Marsh, teve uma ideia. Para ele, acostumado com aves, eram apenas "frangos de smoking". Ou seja, nada que não estivesse familiarizado.
Swampy conta como teve uma sacada genial: "eram 3 horas da manhã e os vizinhos tinham um maldito cão, que não
parava de latir", ele disse. "Demorou um pouco para cair a ficha. Foi
preciso algumas noites para que eu percebesse que ele estava latindo
para aquilo em que eu tentava atirar." Ou seja, homem e cão se tornaram aliados para espantar as raposas, protegendo os pequeninos e rebolativos pinguins.
O Pastor Maremano Abruzês foi criado para proteger e viver entre
animais de criação. Eles desenvolvem um senso apurado de território e
são particularmente vigilantes contra intrusos, apesar de amistosos com pessoas e
animais familiares. O primeiro pastor da
fazenda, Ben, assumiu rapidamente sua nova função, afugentando uma raposa para longe da fazenda. Ou, como disse Marsh, ela "virou pizza de raposa." Desde que, em 2006, o primeiro Pastor Maremano Abruzês foi colocado para trabalhar junto aos pinguins (Oddball, filha de
Ben e o nome de um filme produzido contando a saga de peludos e engravatadinhos), a população de pinguins de
Middle Island se recuperou para 180 e mais nenhum foi perdido para uma
raposa.
Há desafios. Treinar os pastores para o trabalho envolve apresentá-los ao odor distinto dos
pinguins. O que você espera de um bicho que se alimenta exclusivamente de frutos do mar e peixes? Odor de rosas? "Os pinguins não cheiram particularmente bem", disse Peter
Abbott, gerente de serviços de turismo da Câmara Municipal de
Warrnambool. "Eles parecem bonitinhos e fofinhos, mas fedem a peixe
morto." Gradualmente, os cães são ensinados a tratar os pinguins como
qualquer outro tipo de animal de criação, a serem defendidos e não
feridos.
Apesar de seu declínio na Austrália continental, o
pinguim-azul não é considerado ainda ameaçado de extinção. Seu status de ameaça é baixo, conforme a IUCN. Mas o sucesso do
programa em Middle Island é significativo não apenas para sua pequena
população de pinguins-azuis, mas também por seu potencial de servir como
modelo para espécies em maior risco. Há planos em treinar os peludos brancões para cuidar de outros bichos ameaçados na Austrália. Tomara que funcione!
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