Dias do Futuro Esquecido (mas nem tanto)

Parece um cenário daquelas histórias dos X-Men, tipo o filme "Dias de um Futuro Esquecido" (por sinal muito bom). Ao invés de robôs sentinelas gigantescos, e do embate entre a resistência mutante e os monstros de metal, algo mais cruel. Senão, vejamos:

1. Os gaúchos poderiam ter a alegria de eleger um respeitável ex-sindicalista, ex-deputado federal constituinte, ex-prefeito de Porto Alegre, ex-governador do Estado, ex-Ministro das Cidades...um sujeito com clara preocupação com temas como acessibilidade, mobilidade urbana, enraizado na cultura gaúcha, fortemente intelectualizado, com História de identificação popular.

2. Por outro lado, das entranhas da RBS, surgiu a candidatura de um de seus principais âncoras televisivos. Originado do jornalismo esportivo (o que exercia com competência, reconheço), o referido jornalista, na verdade bacharel de Direito, exercia também a atividade de ser o advogado (ou um dos) da Souza Cruz,. Bah, defender os interesses de uma grande empresa tabagista é pra ferrar o pulmão alheio, literalmente. É oprimir os pequenos agricultores, é trabalhar em favor de uma indústria abjeta que fabrica enfizemas, tumores, bronquites, alergias e outros males pulmonares. Ainda que renegasse, o moço fez parte da juventude da ARENA, o partido da ditadura militar nos anos de chumbo.

3. O sujeito fez campanha antecipadamente, ao anunciar-se candidato ao senado federal antes da campanha. Durante toda a campanha, por sinal, fazia explícita referência à sua carreira televisiva, de forma claríssima, usando a mídia como arma, de forma desleal. Aliás, tráfico de influência é o forte da casa. A namorada do ilustre senador abiscoitou um belo CC na Assembleia Legislativa gaúcha, coisa pouca, doze pila por mês segundo os blogues estão anunciando. Bacaninha isso...

4. Daí o povo faz aquele julgamento prenhe do Complexo de Vira-Latas brasileiro. Se está na televisão é bom. Sua fala bem colocada, destilando um discurso de ódio, jogou o povo contra o povo, fazendo com que o missioneiro que curte a festa de Navegantes, o avô dedicado, fosse preterido, ainda que por margem relativamente pequena, no sufrágio do último dia 5.

5. Para deixar melhor a coisa, mais uma pérola eleitoral. Um sujeito, agrônomo, de origem germânica, vociferou na pérolas de fazer Hitler bater palmas lá do Inferno. Luiz Carlos Heinze (PP), o nome do moço, foi eleito, em março deste ano, pela ONG inglesa Survival como Racista do Ano. Titulo bacana, né? Pasmem, foi o candidato à Câmara de Deputados mais votado do Rio Grande do Sul. No final de 2013, durante audiência pública sobre demarcação de terras indígenas, ele se referiu a índios, quilombolas e homossexuais como “tudo que não presta”.E é esse lixo que elegem.

6. Me preocupa o futuro. Se gente desse naipe é alçada a postos tão altos, a se somar aos Felicianos e Bolsonaros da vida, o que estaria por vir? Uma feroz e truculenta guinada à direita, recheada de neoliberalismos e fundamentalismos teológicos, racismo, homofobia, horror aos pobres... Será que ninguém lembra das mentiras midiáticas que foram usadas para legitimar Hitler e sua corja na Alemanha nazista? Será que os malditos nazis que vieram para a América do Sul, fugidos da justiça ao final da II Guerra, fizeram germinar sua semente de ódio e intolerância por aqui? Me preocupo com as cenas por se desnudarem diante de nossos olhos... com os robôs sentinelas perseguindo campesinos, professores, negros, homossexuais, indígenas e outros, a mando dos Lasieres e Heinzes da vida.