Atlas de Histologia: tecido adiposo
O
tecido adiposo é um tipo especial de tecido conjuntivo, de origem
nas células tronco mesenquimais (assim como condroblastos e
fibroblastos) que se caracteriza pela presença de células que se
destacam no armazenamento de triacilgliceróis; tais células são os
adipócitos.
Os
triacilgliceróis são lipídios que funcionam como reservas
energéticas e calóricas, sendo utilizadas paulatinamente em
momentos de ausência de ingesta de nutrientes. Quando há demanda de
acetil CoA para ativar o ciclo de Krebs, os ácidos graxos dos
triacilgliceróis são desdobrados num processo chamado lipólise;
assim, a degradação desses componentes dos triacilgliceróis gera
energia, liberando a acetil CoA para o ciclo de Krebs.
Além
desta importante função, os adipócitos auxiliam na manutenção da
temperatura corpórea e na formação dos coxins adiposos. Também destacamos o fato de
que apresentam distribuição diferenciada no corpo do homem e no corpo
da mulher, ligadas as características sexuais secundárias.
Modernamente, o tecido adiposo, além de órgão
de armazenamento de reserva de triacilgliceróis, e de formador de
coxins gordurosos, é visto também como órgão endócrino, produzindo e liberando substâncias como a leptina, importante mediador químico da sensação de saciedade, entre outros.
Existem 2 variedades de tecidos adiposos: o tecido adiposo unilocular e o multilocular. No tecido adiposo unilocular, os adipócitos armazenam triacilgliceróis em uma gotícula única, que ocupa quase todo o espaço celular. Estas células podem alcançar 100 micrômetros de diâmetro, aumentando grandemente desde o processo de diferenciação que ocorre ainda nas células pré-adiposas fetais. Nos preparados histológicos comuns, o local ocupado pela gotícula de lipídio geralmente está esvaziado, pois os processos de desidratação por álcool ou acetona, bem como a diafanização com xilol, toluol ou clorofórmio, removem totalmente as gorduras do tecido.De qualquer maneira, em que pese o citoplasma ser "espremido" pelo acúmulo de triacilgliceróis, é bastante rico em mitocôndrias, necessárias à oxidação de ácidos graxos.
tecido adiposo unilocular. Note os núcleos periféricos, e o espaço deixado pela gotícula de triacilgliceróis, removidos pelo processamento histológico. HE. |
Os
adipócitos são sustentados por uma trama de colágeno III (fibras
reticulares) e envolvidos por uma rede vascular e nervosa autônoma
muito bem desenvolvida. A
porção simpático do SNA promove ações catabólicas (lipólise),
via estimulação beta-adrenérgica que ativa a enzima lipase
hormônio-sensível (LHS). Já o parassimpático organiza as ações
anabólicas por incrementar a secreção de insulina, aumentando a
captação de glicose e de ácidos graxos, levando, pois, à
lipogênese. No tecido adiposo, além das células adiposas maduras
e pré-adipócitos,
terminações nervosas e vasos, ocorrem fibroblastos e células
ligadas à
resposta imunológica.
O
tecido adiposo não só responde a sinais aferentes dos tradicionais
sistemas hormonais e do sistema nervoso central, mas também expressa
e secreta fatores com funções endócrinas importantes. Estes
fatores incluem, além da leptina, citocinas, adiponectina,
componentes do sistema do complemento, inibidores do ativador de
plasminogênio-1, proteínas do sistema renina-angiotensina, e
resistina. O tecido adiposo é também um local importante para o
metabolismo de esteróides sexuais e glicocorticóides. A função
endócrina do tecido adiposo importante é enfatizada pelos efeitos
metabólicos adversos tanto do excesso de tecido adiposo e
deficiência. Uma melhor compreensão da função endócrina do
tecido adiposo conduzirá provavelmente a terapia mais racional para
tais patologias cada vez mais populares, como a hipertensão arterial.
Os
adipócitos plenamente cheios de triacilgliceróis não se dividem
num indivíduo adulto; o crescimento do tecido se dá principalmente
pelo acúmulo de lipídio nas células adiposas já existentes e
formadas durante a vida embrionária e num período curto após o
nascimento, ou por lipoblastos que estejam como reserva celular no
tecido. Contudo, fibroblastos do tecido adiposo também podem ser
recrutados e modificados em adipócitos, em especial na obesidade
mórbida.
Além
do tecido adiposo unilocular, também conhecido como tecido adiposo
amarelo, observa-se também o tecido adiposo multilocular ou pardo.
Este tipo de tecido adiposo, ao contrário da gordura amarela que
pode ser encontrada espalhada no organismo, só é observada em fetos
humanos recém-nascidos ou com certa abundância em animais
hibernantes. Os adipócitos da gordura parda acumulam lipídios na
forma de várias gotículas espalhadas pelo citoplasma, e cercada por
uma quantidade maior de citoplasma, quando comparada ao adipócito
unilocular. Uma outra característica importante é a abundância em
mitocôndrias, que são as responsáveis pela coloração parda do
tecido.
células adiposas pardas. Notar o tamanho menor das gotículas de triacilgliceróis, em relação ao adipócitos uniloculares. |
A principal função do tecido adiposo multilocular é gerar calor. Através de uma proteína específica nas mitocôndrias destes adipócitos, a proteína desacopladora-1 (UCP-1 ou termogenina), uma forma modificada da ATP sintase, a energia gerada pela cadeia de elétrons e que produz ATP em outras situações, aqui é convertida em calor, que servirá para aquecer os recém-nascidos ou acordar os animais hibernantes.
O
Tecido adiposo multilocular está praticamente ausente em humanos
adultos, mas é encontrado em fetos e recém-nascidos. Seu adipócito,
com 30-40 µm
de diâmetro médio, é menor que o branco (diâmetro médio de
60-100 µm). Possui várias gotículas de triacilgliceróis no
citoplasma, de diferentes tamanhos, citoplasma relativamente
abundante, núcleo esférico e ligeiramente excêntrico e numerosas
mitocôndrias que liberam calor pela oxidação de ácidos graxos. A
termogênese é garantida pela termogenina, localizada na membrana
mitocondrial interna, que atua, à semelhança da ATP-sintase, como
um canal de próton que descarrega o potencial gerado pelo acúmulo
de prótons no espaço intermembranoso durante o ciclo de Krebs,
desviando-os do verdadeiro complexo F1F0 (ATP
sintase), impedindo a síntese de ATP e permitindo que se dissipe em
calor. A alta concentração de citocromo oxidase dessas mitocôndrias
contribui para a sua coloração mais escurecida, daí o nome de
“gordura marrom”.
Referências:
Fonseca-Alaniz,
M. H. et al. O tecido adiposo como órgão endócrino: da teoria à
prática. J. Pediatr.
(Rio J.) . 2007, vol.83,
n.5, suppl., pp. S192-S203 .
Junqueira,
L.C.U.; Carneiro, J. Histologia Básica.
Rio de janeiro, Guanabara Koogan. 2008, 11a
edição, 528 pp.
Kershaw
E.E., Flier J.S. Adipose tissue as an endocrine organ. J Clin
Endocrinol Metab. 2004; 89(6):2548-56.
Ross,
M. et al. Atlas de Histologia Descritiva. Porto Alegre,
ArtMed, 2012, 1a ed., 384 pp.
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