CLOROPLASTOS, MITOCÔNDRIAS E PEROXISSOMOS
CLOROPLASTOS,
MITOCÔNDRIAS E PEROXISSOMOS
(publicado em NORMANN, Carlos Augusto Borba Meyer; Silva, J. F. ; MASCARENHAS, M. . Cloroplastos, Mitocôndrias e Peroxissomos. In: Carlos Augusto Borba Meyer Normann. (Org.). Práticas em Biologia Celular. 2a ed., Porto Alegre: Editora Sulina, 2017, pp. 89-114)
INTRODUÇÃO
A
Teoria
da Endossimbiose,
criada por Lynn Margulis (1981), propõe que algumas organelas de
células eucaróticas tenham surgido como consequência de uma
associação simbiótica estável entre bactérias e cianobactérias
e organismos eucariotos primordiais. Essa teoria sugere que as
células eucarióticas nasceram como comunidades de organismos em
interação, que se uniram numa ordem específica. Os elementos
procarióticos poderiam ter entrado numa célula hospedeira por
ingestão ou como parasitos. Com o passar do tempo, os elementos
originais teriam desenvolvido uma forma de interação biológica do
tipo mutualista, que que mais tarde se tornou uma simbiose
obrigatória. Assim, postula-se que cloroplastos e mitocôndrias são
originários de procariotos autótrofos. Dessa forma, esses
procariotos hipotéticos obteriam substratos oxidáveis de seu
hospedeiro, bem como proteção contra o meio externo.
O
hospedeiro, por sua vez, se beneficiaria com a produção de
alimentos (fotossíntese) e com a geração de ATP a partir de
processos oxirredutores decorrentes do acoplamento simbiôntico.
Outro grande pesquisador, o laureado com o Nobel de Medicina de 1974
Christian de Duve, corrobora a hipótese do endossimbionte,
considerando que peroxissomos podem ter sido os primeiros
endossimbiontes,
em face à capacidade de replicação e aos marcadores exclusivos de
suas proteínas. Sua capacidade metabólica oxirredutora permitiria
às células adaptar-se à quantidade crescente de oxigênio
molecular na atmosfera da Terra. A teoria, no entanto, não explica a
perda do “DNA peroxissomal”, o que a faz ser vista como uma
hipótese especulativa.
A
principal implicação da endossimbiogênese é a de que os
eucariotos são, de fato, organismos-quimera, com genoma de origem
extranuclear. Várias evidências estruturais e bioquímicas reforçam
a tese. Por exemplo, os cloroplastos primários de plantas possuem a
clorofila B, e os cloroplastos primários das algas vermelhas contêm
ficobilinas. Outros tipos de algas apresentam cloroplastos de origem
em uma endossimbiose secundária, como é o caso das zooxantelas,
presentes em corais verdadeiros.
Várias
características morfológicas e bioquímicas reforçam a teoria da
origem endossimbiôntica de mitocôndrias e cloroplastos:
1.
Tanto as mitocôndrias como os cloroplastos possuem DNA próprio,
bastante diferente do que existe no núcleo celular e em quantidades
semelhantes às de procariotos;
2.
As mitocôndrias utilizam código genético diferente do eucariótico
hospedeiro, com semelhanças ao das bactérias e Archeabacteria; as
proteínas dessas organelas utilizam como aminoácido iniciador a
N-formil-metionina, como as de bactérias;
3.
Mitocôndrias e cloroplastos são rodeados por duas ou mais
membranas, sendo que a mais interna tem diferenças na composição
em relação às outras membranas da célula e semelhanças com as
dos procariotos;
4.
Ambos se multiplicam por fissão binária, como as bactérias; em
Euglena,
os cloroplastos podem ser destruídos por certas substâncias
químicas ou por ausência prolongada de luz, sem que isso afete a
célula (que se torna heterótrofa); além disso, quando isso
acontece, a célula não tem capacidade para regenerar novos
cloroplastos;
5.
Muito da estrutura e bioquímica dos cloroplastos, como, por exemplo,
a presença de tilacoides e tipos particulares de pigmentos, é muito
semelhante à de cianobactérias; análises filogenéticas de
bactérias, cloroplastos e genomas eucarióticos também sugerem que
os cloroplastos estão relacionados com as cianobactérias;
6.
A sequência do DNA de algumas espécies de plantas sugere que o
núcleo celular contém genes que aparentemente vieram do
cloroplasto;
7.
Tanto as mitocôndrias como os cloroplastos possuem genomas muito
pequenos, em comparação com outros organismos. Muitos genes
nucleares codificam proteínas mitocondriais e do cloroplasto. O
“desligar” desses genes nas organelas representaria, certamente,
um aumento da dependência dessas organelas depois da simbiose se
tornar obrigatória;
8.
Vários grupos de protistas possuem cloroplastos, embora os seus
portadores sejam mais estreitamente aparentados com formas que não
os possuem, sugerindo que, se os cloroplastos tiveram origem em
células endossimbiontes, esse processo teve lugar múltiplas vezes,
o que é chamado “endossimbiose secundária”.
No
entanto, há alguns questionamentos: nem mitocôndrias, nem
cloroplastos podem sobreviver no meio rico em oxigênio ou fora das
células. Isso ocorre devido à perda de vários genes essenciais
para a sobrevivência no genoma mitocondrial e cloroplástico. Essa
objeção é facilmente explicada se levarmos em conta o longo tempo
de coexistência das organelas com seus hospedeiros. Genes e sistemas
que não eram tão necessários foram simplesmente deletados pelas
organelas ou transferidos para o genoma do hospedeiro, por mecanismos
ainda não completamente elucidados. Essa ação é a principal forma
de controle das atividades dessas organelas pela célula eucariota.
MITOCÔNDRIA
A
mitocôndria é a organela encarregada de comandar os processos
de oxirredução celular, permitindo a conversão da energia química
potencial de substratos como o piruvato, os ácidos graxos e
aminoácidos, oriundos de reservas do corpo ou da alimentação, em
compostos que possibilitem a transferência de elétrons para a
cadeia respiratória. Esta, por sua vez, proporciona a formação de
um gradiente de prótons que impulsiona a bomba próton-motriz
encarregada da síntese de ATP para a célula.
Outra
função da mitocôndria é a termogênese, em especial nos
recém-nascidos e em animais durante hibernação. Nesse caso, as
mitocôndrias, em especial as presentes nas células do tecido
adiposo multilocular, possuem sua enzima ATP sintase modificada,
sendo denominada termogenina.
Por estímulo adrenérgico, a termogênese ocorre, havendo a
liberação de calor a partir do gradiente de prótons, e não de
ATP.
A
mitocôndria também está envolvida no processo de morte celular
programada ou apoptose. Essa participação se dá a partir da
liberação do citocromo
c,
através de um canal na membrana externa da organela. O citocromo
c participa
na formação dos apoptossomos, que levam à morte da célula.
Toda
mitocôndria é formada por duas unidades de membrana separadas por
um espaço
intermembranoso,
cada qual com funções e proteínas diferentes associadas à sua
bicamada lipídica. A membrana
externa mitocondrial é
semelhante às demais membranas das células eucariontes. A membrana
interna emite
numerosas cristas
para
o interior da organela, aumentando substancialmente a sua superfície.
Nessas cristas pode-se visualizar, ao microscópio eletrônico (ME),
partículas em forma de raquete, denominadas corpúsculos
elementares.
Estes são encontrados a intervalos de 10 nm, podendo haver 104
a
106
corpúsculos
por mitocôndria.
A
cadeia respiratória ocorre na membrana mitocondrial interna e
compreende três complexos
enzimáticos principais,
através dos quais elétrons fluem do NADH para o O2,
utilizando a energia daí gerada para bombear H+
da
matriz para o espaço intermebranoso. Na membrana nativa, os
carreadores de elétrons móveis ubiquinona e citocromo
c completam
a cadeia transportadora de elétrons ao mediarem a transferência de
elétrons entre os complexos enzimáticos. Por fim, os elétrons são
transferidos para o oxigênio molecular (O2
),
essencial ao processo aeróbico, unindo-se a átomos de hidrogênio
para formar água. O gradiente eletroquímico de prótons resultante
é adaptado para sintetizar ATP por outro complexo proteico
transmembrana, ATP
sintase,
através do qual H+
flui
de volta à matriz. Esse complexo está localizado nos corpúsculos
elementares.
Quando
a mitocôndria fica exposta a um meio citoplasmático com altas
concentrações de ADP, ela assume uma forma condensada. Isso se deve
ao fato de estar em síntese máxima de ATP e, junto com ele, de H2O,
que se acumula no espaço intermembranoso.
No
interior da mitocôndria, delimitada pela membrana interna, está a
matriz
mitocondrial.
A matriz contém material proteico granular de alta densidade, capaz
de se ligar a fosfatos de cálcio e magnésio, precipitando-se na
forma de grânulos
elétron-densos.
Por esse motivo, as mitocôndrias são o segundo destino preferencial
de acúmulo do cálcio intracelular (o primeiro é o retículo
endoplasmático liso). Além das características citadas
anteriormente, a matriz possui todas as enzimas necessárias ao Ciclo
de Krebs;
ribossomos chamados de mitorribossomos, menores que os
citoplasmáticos; DNA (mitocondrial) e RNAs. A mitocôndria possui
DNA próprio, o que talvez reflita o curso do processo evolutivo.
O
caráter “procariótico” do seu sistema genético, bem como do
sistema genético dos cloroplastos, sugere que essas organelas se
originaram de bactérias endocitadas há mais de um bilhão de anos,
quando o oxigênio atmosférico terrestre atingiu níveis elevados.
Segundo essa hipótese, as células eucarióticas iniciaram sua
existência estabelecendo uma relação endossimbiótica com uma
bactéria aeróbia. Durante a evolução eucariótica, ocorreu uma
grande transferência de genes das células endocitadas para o núcleo
celular, com o objetivo de favorecer a mitocôndria na execução de
uma única função principal: o fornecimento energético. Isso
explica a importação de proteínas citoplasmáticas e a existência
de algumas sequências não codificantes no DNA nuclear. A teoria
ainda abre espaço para explicar a presença de duas membranas
lipídicas na organela. A membrana mitocondrial interna seria
originária da membrana bacteriana endocitada, enquanto a membrana
mitocondrial externa seria derivada da própria membrana celular.
O
genoma mitocondrial se restringe a uma
fita de DNA circular na
célula animal, sendo o sistema genético mais simples conhecido,
estando na ordem de 10-5
do
nuclear, o que corresponde a 16.500 pares de bases, em que todos os
nucleotídeos fazem parte de sequências codificantes. Em números,
esse material genético é capaz de codificar: 2 RNAs ribossomais, 70
22
RNAs transportadores (enquanto no citoplasma celular temos 30 RNAt) e
13 cadeias polipeptídicas. Isso é suficiente para que sejam capazes
de sintetizar a maior parte de suas próprias proteínas e se
autoduplicarem. Essas organelas se originam de outras preexistentes
por fissão, podendo também fundir-se umas com as outras. Os
processos de duplicação e fusão são controlados e capazes de
manter um número sempre estável de mitocôndrias por célula. O
número de mitocôndrias pode ser ainda regulado de forma adaptativa;
o músculo esquelético submetido a esforço prolongado, por exemplo,
possui 5 a 10 vezes mais mitocôndrias. O DNA mitocondrial se duplica
durante a interfase, mas não só nesse período, e em tempos
diferentes se comparadas às mitocôndrias de uma mesma célula.
A
duplicação se assemelha àquela observada nas bactérias. Nos
vegetais, o DNA mitocondrial é 10 a 150 vezes maior, mas a
quantidade de proteínas sintetizadas é quase a mesma, pois muitas
sequências adicionadas não constituem genes, chegando até mesmo a
existir íntrons. Como nas bactérias, o DNA mitocondrial não é
envolto em histonas, e seu empacotamento ainda não é bem explicado.
Muitas
das proteínas mitocondriais são produzidas a partir do DNA nuclear
e sintetizadas no citoplasma. Uma boa parte da síntese proteica
mitocondrial consiste em polipeptídios que precisam se associar a
subunidades polipeptídicas produzidas no citoplasma. A importação
dessas subunidades citoplasmáticas ocorre através de sítios de
adesão entre as membranas mitocondriais interna e externa
denominados sítios de contato.
Para
que uma proteína celular citoplasmática chegue até a mitocôndria
e se estabeleça na sua matriz, são necessários eventos de
sinalização celular. As proteínas de origem nuclear normalmente
possuem peptídios de sinalização que endereçam a cadeia proteica
para a matriz da mitocôndria. As proteínas atravessam as membranas
impulsionadas por um gradiente eletroquímico existente entre as
faces da membrana mitocondrial interna e pela energia do ATP, num
estado desdobrado que facilita o transporte. Já na matriz, a
proteína pode associar-se a outras subunidades mitocondriais e
atinge a sua conformação efetiva. A maior parte dos lipídios
mitocondriais são importados de outros compartimentos celulares,
sendo que os sintetizados no retículo endoplasmático liso são
aderidos à membrana mitocondrial interna. Assim, podem ser
realizadas simples modificações nessas moléculas, podendo ser
convertidos em cardiolipina,
que constitui 20% dos lipídios de sua membrana interna.
Nas
leveduras, a herança do DNA mitocondrial é biparental, ou seja,
proveniente dos dois organismos formadores. Já nos seres onde ocorre
maior especialização do sistema reprodutor, a herança mitocondrial
é sempre através do óvulo, e nunca do espermatozoide; isso indica
que a herança é uniparental ou, mais especificamente, materna. Por
licença poética, podemos falar que a energia que move o ser humano
é feminina...
Recentemente,
foi registrado um procedimento de triplo uso de material genético
numa fertilização in vitro, por uma equipe do New Hope Fertility
Center, em Nova York. No procedimento, foi eliminado o núcleo do
óvulo de uma doadora saudável, e utilizado o núcleo do óvulo de
uma mãe cujas mitocôndrias apresentam uma disfunção mitocondrial
neurológica, a síndrome de Leigh. O procedimento é regulamentado,
até o momento, na Inglaterra. Dessa maneira, foi possível uma
concepção sem que a patologia mitocondrial, de herança
exclusivamente materna, se manifestasse na criança, o que ocorreria
numa fertilização in vitro convencional.
As
mitocôndrias variam em número e morfologia nos diferentes tecidos,
adaptando-se a cada célula em particular. Essa variação pode
ocorrer também quanto à localização, constituição proteica e
funções exercidas. Elas estão associadas ao citoesqueleto, sendo
posicionadas na célula pela movimentação associada aos
microtúbulos e microfilamentos. Sugere-se que a vimentina, um
filamento intermediário, teria um importante papel nesse
posicionamento mitocondrial. Na célula muscular esquelética, por
exemplo, as mitocôndrias encontram-se alinhadas entre as
miofibrilas.
Normalmente,
a organela se encontra próxima dos locais que mais necessitam de
energia. No espermatozoide, por exemplo, elas formam uma espécie de
“colar” ao redor do flagelo, na peça média do gameta,
fornecendo a energia necessária para que o mesmo chegue ao sítio de
fertilização na ampola do oviduto. As mitocôndrias do
espermatozoide são altamente sensíveis a agentes que possam afetar
a cadeia respiratória, como a rotenona, mixotiazol e outros
compostos; assim, pela ação desses compostos, ocorre geração de
espécies reativas de oxigênio, que promovem danos nos
espermatozoides, afetando sua mobilidade.
Também
a obesidade e outras disfunções nutricionais alteram a morfologia
mitocondrial. Embora já tenha sido descrito em meados do século XX
o processo de mudanças morfológicas em mitocôndrias, apenas
em 2007 foi demonstrado que as mitocôndrias apresentam um alto
dinamismo morfológico regulado pelos processos da fusão e fissão
mitocondrial. Para que isso ocorra, é preciso da ação de diversas
proteínas presentes na membrana mitocondrial, por exemplo,
mitofusina 1 (MFN1), mitofusina 2 (MFN2), OPA1 e Drp1. Um estudo
demostrou que as mitocôndrias em neurônios AgRP, que são
vulgarmente chamados de neurônios da fome hipotalâmicos, liberam o
agente orexígeno agouti, apresentam um dinamismo morfológico
dependente do estado de alimentação do animal. Quando o animal é
privado de alimento, as mitocôndrias presentes nesta população de
neurônios apresentam um tamanho reduzido, formato mais circular e em
maior número, indicando processos de fissão mitocondrial. Quando o
animal é submetido à dieta rica, hiperlipídica, as mitocôndrias
passam a apresentar um tamanho maior, mais alongadas e em menor
número, evidenciando o processo de fusão mitocondrial.
Uma
vez que as mitocôndrias estão envolvidas na síntese de esteróides,
é de se esperar que, em células que sintetizam hormônios derivados
do colesterol, essas organelas estejam com uma morfologia
diferenciada. De fato, em células de Leydig testiculares, observamos
mitocôndrias com cristas bem definidas, lamelares, longas, formando
as associações lamelares encontradas nessas células. São
interconectadas a regiões pleiomórficas e tubulares, com ocasionais
fenestrações nas regiões lamelares. Nos espongiócitos
suprarrenais, por exemplo, verificamos cristas túbulo-vesiculares,
onde encontramos as enzimas ligadas ao metabolismo do colesterol.
As
mitocôndrias podem ser responsáveis por diversas patologias de
causas estruturais ou simplesmente funcionais. Algumas das anomalias
são genéticas, enquanto outras são secundárias. Aquelas com
herança genética são passadas de mãe para filho, afetando ambos
os sexos igualmente. Os efeitos sistêmicos mais notáveis são os
neurodegenerativos, musculares (principalmente fraqueza) ou
decorrentes de disfunções metabólicas por excesso de ácido
láctico. É importante ressaltar o fenômeno da heteroplasmia
nas
doenças mitocondriais, ou seja, os pacientes apresentam variações
nos sintomas, dependendo da quantidade de mitocôndrias normais e
mutantes em suas células, já que o óvulo que “carrega” as
mitocôndrias mutantes também possui mitocôndrias normais.
As
encefalomiopatias
mitocondriais funcionais são
diversas e raras. A falha pode estar na utilização do substrato, no
acoplamento da oxidação e produção de ATP ou na cadeia
respiratória. Ao ME, a célula muscular esquelética mostra-se
repleta de mitocôndrias; a duplicação excessiva das mitocôndrias
é uma tentativa de superar o deficit energético nessa patologia,
assim como em qualquer outra condição fisiológica ou patológica
de deficiência energética na célula. A febre
mitocondrial é
uma anormalidade funcional no acoplamento da oxidação com a
produção de ATP em que a mitocôndria produz principalmente energia
térmica, e não química. O paciente demonstra quadro crônico, que
se manifesta logo na infância, de febre, aparência magra, sudorese
excessiva e intolerância
ao calor. É importante distingui-la do hipertireoidismo.
Um
tipo de encafalomielopatia a parte, que se tornou conhecida devido ao
caso acima mencionado de fertilização de três doadores de material
genético, é a síndrome de Leigh. Ela é conhecida como
encefalomielopatia necrosante subaguda, encefalopatia necrosante de
Leigh e encefalomielopatia necrosante de Leigh. É uma doença rara,
que foi descrita por Denis Leigh em 1951, em Londres. É uma
enfermidade neurometabólica congênita, que faz parte do grupo das
encefalopatias mitocondriais. A alteração se dá no metabolismo
energético. A principal causa de defeito deve-se à fosforilação
oxidativa e geração de ATP celular O início das manifestações
clínicas é variado, ocorrendo em geral, dentro dos primeiros dois
anos de vida, com evolução insidiosa, progressiva e com períodos
de exacerbações. O diagnóstico é difícil pelo pleomorfismo de
sua apresentação, sendo baseado nos achados clínicos e estudos
complementares relacionados à deficiência na produção
mitocondrial de ATP e da citocromo C oxidase. Exames laboratoriais
que apresentem hiperproteinorraquia, níveis elevados de lactato e
piruvato no sangue e a hiperlactacidemia provocada por sobrecarga
glicídica, são sugestivos desta síndrome, para a qual não há
ainda tratamento específico.
O
mitocondrioma
é
uma anormalidade estrutural encontrada em tumores específicos das
glândulas salivares e ocasionalmente
no fígado. Caracteriza-se por um descontrole da duplicação
mitocondrial, tornando o citoplasma repleto da organela e comprimindo
as outras estruturas celulares. O mecanismo ainda é desconhecido.
Teorias recentes sugerem que a anormalidade deve ser enquadrada como
um tumor benigno das mitocôndrias. O depósito
de cálcio é
achado frequente e não patológico nas mitocôndrias dos
osteoblastos. A disfunção dos hormônios calcitonina e paratormônio
provoca hipercalcemia sanguínea, que se reflete em um excesso de
cálcio citoplasmático que pode se depositar na mitocôndria,
causando danos ao rim e coração. A célula pode tornar-se repleta
de cálcio e morrer.
Algumas
anormalidades estruturais podem ser causadas pela intoxicação
por substâncias,
como álcool, quelantes, reserpina, e quadros
patológicos,
como hipofisectomia, hepatites virais e deficiências nutricionais.
Pode-se perceber alterações ao ME, como mitocôndrias de formas
bizarras, gigantes e vacuolizadas. No entanto, nenhuma patologia foi
atribuída diretamente às alterações mitocondriais. O
hipertireoidismo
produz
um aumento global da concentração de mitocôndrias nas células,
pois os hormônios T3
e
T4
estimulam
a proliferação e o aumento da atividade das mitocôndrias.
CLOROPLASTO
Todos
os animais e a maioria dos microrganismos dependem da captação
contínua de grandes quantidades de compostos orgânicos do ambiente.
Esses compostos fornecem tanto os esqueletos de
carbonos
para a biossíntese, quanto a energia metabólica, que dirige todos
os processos celulares. Acredita-se que os primeiros organismos da
Terra primitiva tiveram acesso a uma abundância de compostos
orgânicos produzidos por processos geoquímicos, mas que a maioria
desses compostos originais foi utilizada há bilhões de anos. Desde
aquele tempo, virtualmente todos os materiais orgânicos necessários
para as células vivas foram produzidos por organismos
fotossintetizantes, incluindo muitos tipos de bactérias
fotossintetizantes.
As
mais avançadas bactérias fotossintetizantes são as cianobactérias,
que possuem mínimas necessidades nutricionais. Elas utilizam
elétrons da água e energia da luz solar para converter o CO2
atmosférico
em compostos orgânicos. No curso da separação da água [na reação
nH2O
+ nCO2
—>
(CH2O)n
+ nO2],
eles liberam na atmosfera o oxigênio necessário para a fosforilação
oxidativa. Acredita-se que a evolução das cianobactérias, a partir
de bactérias fotossintetizantes primitivas, foi um pré-requisito
para o desenvolvimento de formas de vida aeróbica.
Em
vegetais, que se desenvolveram mais tarde, a fotossíntese ocorre em
uma organela intracelular especializada – o
cloroplasto.
Os cloroplastos faze a fotossíntese durante as horas de luz diurna.
Os produtos da fotossíntese são usados diretamente pelas células
fotossintetizantes para sua biossíntese e também são convertidos
em um açúcar de baixo peso molecular (normalmente sacarose), que é
exportado para suprir as necessidades metabólicas das outras células
não fotossintetizantes do vegetal. Alternativamente, os produtos
podem ser armazenados na forma de um polissacarídeo osmoticamente
inerte (normalmente amido), que é mantido disponível como fonte de
açúcar para uso futuro.
Os
cloroplastos são os mais proeminentes membros da família de
organelas chamada plastídios. Os plastídios estão presentes em
todas as células vegetais vivas, onde cada tipo de célula tem o seu
componente característico. Em geral, todos os plastídios
compartilham certas características. Curiosamente, todos os
plastídios de uma espécie particular de vegetal contêm múltiplas
cópias de um mesmo genoma relativamente pequeno e são circundados
por um envelope composto de duas membranas concêntricas; todos os
plastídios se desenvolvem a partir de proplastídios,
os quais são organelas relativamente pequenas presentes nas células
imaturas dos meristemas vegetais. Os proplastídios se desenvolvem de
acordo com as necessidades de cada célula diferenciada, e o tipo que
estará presente é determinado em grande parte pelo genoma nuclear.
Se uma folha é cultivada no escuro, os seus proplastídios se
alargam e se tornam etioplastídios,
os quais possuem um arranjo semicristalino de membranas internas
contendo um precursor amarelo da clorofila. Quando a folha é exposta
à luz, rapidamente os etioplastos se desenvolvem em cloroplastos,
convertendo esse precursor em clorofila e sintetizando uma nova
membrana, pigmentos, enzimas fotossintetizantes e componentes da
cadeia transportadora de elétrons.
Os
leucoplastos
são
plastídios que ocorrem em muitos tecidos epidermais e internos que
não se tornam verdes e fotossintetizantes. Eles são um pouco mais
alargados do que os proplastídios. Uma forma comum de leucoplasto é
o amiloplasto,
o qual acumula amido em tecidos de reserva. Em algumas plantas, tal
como batatas, os amiloplastos podem crescer tanto que chegam ao
tamanho médio das células animais.
É
importante entender que os plastídios não são somente sítios para
a fotossíntese e para o depósito de materiais de reserva. Os
vegetais exploraram os seus plastídios na compartimentação celular
do metabolismo intermediário. Os plastídios produzem mais energia e
força redutora (como ATP e NADPH) do que a planta pode utilizar em
suas reações biossintéticas. As sínteses de purinas e pirimidinas
da maioria dos aminoácidos e de todos os ácidos graxos dos vegetais
ocorrem nos plastídios, enquanto em células animais esses compostos
são produzidos no citosol.
Cloroplastos
são organelas que podem ser observadas ao microscópio de luz com
certa facilidade, devido ao seu tamanho e sua coloração. Aparecem
na célula vegetal na forma de discos achatados de 2 a 10 ¼ m de
diâmetro e 1 ¼ m de espessura. Em algumas plantas, podem atingir
dimensões bem maiores. Essa organela fotossintetizante contém três
membranas distintas (a membrana externa, a membrana interna e a
membrana dos tilacoides) que definem três compartimentos internos
separados (o espaço intermembranas, o estroma e o espaço
tilacoide). A membrana tilacoide contém todos os sistemas geradores
de energia do cloroplasto. Os tilacoides individuais estão
interconectados e tendem a se empilhar para formar agregados chamados
de grana.
Os
cloroplastos fazem as interconversões energéticas por mecanismos
quimiosmóticos, de maneira muito semelhante àquela utilizada pelas
mitocôndrias, e são organizados pelos mesmos princípios. Essa
organela possui duas membranas (externa e interna) tipo envelope, de
natureza fosfolipídica. A membrana externa é altamente permeável;
já a membrana interna é muito menos permeável, e nela as proteínas
carreadoras especiais estão embebidas. Entre essas duas membranas
encontramos um espaço intermembrana à semelhança das mitocôndrias.
A membrana interna circunda o estroma, o qual é análogo à matriz
mitocondrial e contém várias enzimas, RNA, várias cópias do
DNAcl, que é circular como em procariotos, e ribossomos, que
processam o RNAm transcrito do DNA circular e codificam as proteínas
da organela. Contudo, muitas proteínas do cloroplasto são
produzidas a partir de genes nucleares e importadas a partir do
citoplasma.
Há,
entretanto, uma importante diferença entre a organização das
mitocôndrias e a dos cloroplastos: a membrana interna dos
cloroplastos não é dobrada em cristas e não contém uma cadeia
transportadora de elétrons. Ao invés disso, a cadeia transportadora
de elétrons, e o sistema fotossintetizante que absorve luz e uma ATP
sintase estão todos contidos em uma terceira membrana distinta, a
dos tilacoides. Acredita-se que o lúmen de cada tilacoide está
conectado com o lúmen de outros tilacoides, definindo um terceiro
compartimento interno chamado de espaço
tilacoide,
o qual é separado do estroma pela membrana tilacoide.
Os
tilacoides são arranjados em pilhas, as grana (singular: granum). As
moléculas de clorofila se localizam nos tilacoides, reunidas em
grupo, formando estruturas chamadas de “complexos de antena” ou
“antena”.
Como
na fosforilação oxidativa mitocondrial, a fotossíntese envolve
conversão energética. Nesse caso, a energia fotônica promove o
gatilho energético para a fixação do carbono atmosférico em
cadeias carbonadas. A energia dos fótons incidentes é absorvida
pelos pigmentos e encaminhada através de transferência energética
por ressonância. Duas moléculas de clorofila são então ionizadas,
produzindo um elétron excitado que passa para o centro de reação
fotoquímica.
Todos
os processos de transporte de elétrons ocorrem na membrana
tilacoide: para fabricar ATP, o H+
é
bombeado para o espaço tilacoide, e um refluxo de H+,
através da ATP sintase, produz o ATP no estroma cloroplástico. Esse
ATP é usado em conjunto com o NAPH feito pela fotossíntese para
direcionar um grande número de reações biossintéticas no estroma
cloroplástico, incluindo as reações de fixação de carbono (Ciclo
de Calvin-Benson) mais importantes, que geram carboidratos a partir
de gás carbônico (CO2).
Com outros produtos dos cloroplastos, esse carboidrato é exportado
para o citosol celular, onde é utilizado. Fala-se muito da
importância da fotossíntese na liberação de oxigênio para a
atmosfera. Na verdade, o oxigênio é produto secundário da
fotossíntese.
Na
fotossíntese, a planta usa a energia do sol, captada através do
complexo da antena, para oxidar a água e, assim, produzir oxigênio,
e para reduzir o CO2
produzindo
compostos orgânicos, principalmente açúcares. A série completa de
reações que culmina na redução do CO2,
inclui as reações nos tilacoides e as reações de fixação de
carbonos. As reações nos tilacoides produzem compostos ricos em
energia (ATP e NADPH), os quais são usados para a síntese de
açúcares nas reações de fixação de carbono. Esses processos de
síntese ocorrem no estroma do cloroplasto, a região aquosa que
circunda os tilacoides. No cloroplasto, a energia da luz é captada
por duas diferentes unidades funcionais chamadas fotossistemas. A
energia luminosa absorvida é usada para fornecer força à
transferência de elétrons ao longo de uma série de compostos que
atuam como doadores e aceptores de elétrons. A maioria dos elétrons
reduz NADP+
em
NADPH. A energia da luz também é usada para gerar uma força motiva
de prótons ao longo da membrana tilacoide, força essa usada para a
síntese de ATP.
Resumidamente,
dois estágios sequenciais ocorrem nos cloroplastos:
a)
Primeiro, a luz, nos comprimentos de onda determinados, é
“capturada” e ocorre a geração de energia potencial química
por uma série de passos chamados de reações de luz ou reações
luminosas, ou ainda fase clara. Essas reações são processadas nas
membranas dos tilacoides.
b)
Segundo, o CO2
é
fixado e reduzido a compostos orgânicos, particularmente açúcares,
por uma série de passos chamados de reações no escuro ou fixação
de CO2,
ou ainda fase escura.
Esse
processo ocorre na matriz fluida do cloroplasto (estroma). As plantas
são verdes pois os pigmentos fotossintéticos que coletam a luz
usada na fotossíntese absorvem todos os comprimentos de onda
visíveis de luz, exceto aqueles na parte verde do espectro.
O
pigmento mais importante em plantas superiores é a clorofila
a,
existindo ainda pigmentos acessórios como clorofila
b
e carotenóides
amarelos e laranjas. Todos esses pigmentos estão associados com
proteínas e encontram-se embutidos nos tilacoides.
A
luz chega em pequenos pacotes de energia (fótons), com a quantidade
de energia por fóton sendo relacionada com o comprimento de onda.
Uma molécula de pigmento pode absorver apenas um fóton e, em
teoria, cada fóton absorvido poderia iniciar uma reação
fotoquímica. O sistema de antena canaliza a energia absorvida pelas
50 a 1.000 moléculas de clorofila (mais os pigmentos acessórios)
para um local denominado de centro de reação, onde a reação
fotoquímica se processa continuamente.
Inicialmente,
os elétrons em átomos ou moléculas estão energeticamente em um
nível “normal” de energia denominado de estado básico ou estado
fundamental (ground
state).
A absorção de um fóton por uma molécula de clorofila excita um
elétron, levando ele de um estado de baixa energia (não excitado)
para um estado excitado.
O
elétron excitado primeiramente relaxa ao menor nível do estado
excitado, emitindo radiação infravermelha, isto é, calor. Após
ele retorna ao estado fundamental, podendo nesse retorno acontecer
três processos:
a)
perda de calor;
b)
emissão de um fóton (fluorescência); ou
c)
transferência de energia a uma molécula adjacente, onde outro
elétron é excitado.
Este
último processo é conhecido como transferência por ressonância. É
o mecanismo pelo qual a energia coletada por dezenas ou centenas de
moléculas de pigmento é canalizada ao centro de reação. É neles
que a verdadeira reação fotoquímica ocorre, isto é, um elétron
excitado é transferido de uma molécula do pigmento a uma adjacente
(molécula receptora não-pigmento), resultando em uma separação de
cargas elétricas. Isso é possível pois o elétron excitado está
menos fortemente ligado à clorofila do que estaria num estado menos
energético (estado fundamental).
A
reação fotoquímica pode ser representada pelo esquema abaixo:
Esse
esquema é a essência da fase fotoquímica. O que acontece no
estágio seguinte (estágio 3) é a transferência de elétrons com
alta energia de A- para uma série de outras moléculas
transportadoras e a doação de um elétron à clorofila+.
Os
princípios do transporte de elétrons na fotossíntese são os
mesmos da respiração. Os elétrons são transferidos de substratos
de baixa afinidade por elétrons (p. ex., NADH, o qual prontamente
doa elétrons) para substratos com alta afinidade à elétrons (ex.:
O2,
o qual prontamente recebe elétrons). Pode-se dizer também que
elétrons com alta energia são transferidos na direção “morro
abaixo”, perdendo energia ao longo do caminho. Na fotossíntese,
elétrons com alta energia são ejetados pelo centro de reação após
a absorção da luz. No transporte cíclico de elétrons, é gerada
uma força motiva de prótons transmembrana (FMP), similar ao que
ocorre nas mitocôndrias, e esta por sua vez pode estar acoplada à
síntese de ATP (o processo de fotofosforilação cíclica). A
enzima-chave nesse processo é a ATP sintase, a qual catalisa a
síntese de ATP.
O
ATP é o único “produto” do transporte cíclico de elétrons,
mas a fixação de CO2
requer
tanto ATP quanto um potente agente redutor, cuja síntese requer
elétrons com alto nível de energia. Apenas um transporte não
cíclico de elétrons pode fornecer o poder redutor. Em bactérias
primitivas, os doadores de elétrons, como o sulfito, estão
disponíveis apenas em alguns habitats (p. ex., em anaerobiose), e
isso restringe os locais onde as bactérias podem crescer.
Plantas
verdes, cianobactérias ou algas têm uma solução para isso: elas
utilizam a água como doador de elétrons para o sistema não-cíclico
de transporte de elétrons. Entretanto, a água não é prontamente
doadora de elétrons. Ela é de difícil oxidação, ao ser comparada
com os elétrons do sulfito, o qual tem um potencial elétrico de
cerca de zero volts; os elétrons da água têm aproximadamente + 0,8
volts, ou seja, têm menor energia. Para oxidar a água e ao mesmo
tempo gerar o poder redutor, as plantas utilizam duas reações de
luz, cada uma com seu centro de reação e antena, denominados
Fotossistemas I e II (FSI e FSII). Dessa maneira, elétrons com baixa
energia podem agora ser transferidos da água para o NADP+
usando
o FSI e FSII, e energia suficiente torna-se disponível para gerar a
FMP para a síntese de ATP. Além disso, quando a molécula de água
é quebrada (oxidada), o oxigênio é liberado, reação esta que
deriva todo o O2
presente
na atmosfera.
Essas
reações de luz das plantas são, assim, extremamente importantes
para a manutenção da vida no planeta. Iniciando com o FSII,
a absorção da luz por um complexo antena-pigmento excita P680 (P680
é uma forma especial de clorofila que absorve a luz num comprimento
de onda de 680 nm) e leva à reação fotoquímica (ejeção do
elétron de alta energia). O P680, agora oxidado, é um potente
agente oxidante, apresentando grande habilidade em extrair elétrons
da água. Os elétrons são transferidos da água para oxidar P680
através de um complexo proteico com manganês localizado próximo ao
espaço tilacoide (também conhecido como espaço intratilacoide ou
lúmen). Para cada molécula de água quebrada, dois íons H+
são
liberados nesse espaço (contribuindo para o gradiente de prótons),
bem como dois elétrons.
Os
elétrons do ativado P680 são transferidos através de outros
carregadores para a plastoquinona (PQ). PQ é um carregador de H+
que,
tendo recebido dois elétrons, pega dois prótons do estroma (2 H+),
transformando-se em PQH2. Logo após, PQH2 doa dois elétrons ao
complexo citocromo e lança os 2 H+
no
lúmen. Os elétrons do citocromo
f são
transferidos para plastocianina (PC), uma proteína que contém cobre
e que pode se mover a curta distância ao longo da superfície da
membrana do FSI. O doador primário de elétron no FSI,
o P700, aceita os elétrons da PC quando ele estiver energizado pela
luz absorvida pela antena associada. P700 transfere elétrons para
Ferrodoxina (Fd, uma proteína que contém ferro), localizada no lado
estroma. A Fd, por sua vez, reduz NADP+
via
uma enzima redutase (NADP redutase), produzindo o NADPH. Esse caminho
não-cíclico dos elétrons produz NADPH e promove uma transferência
de prótons para dentro do lúmen, o qual torna-se acidificado (pH 5)
em relação ao estroma (pH 8).
Outro
caminho de representação do transporte de elétrons é em relação
à afinidade dos elétrons dos carregadores com a energia dos
elétrons. Os elétrons são “empurrados para cima” por duas
reações fotoquímicas e “movidos para baixo” entre os elétrons
carregadores. Devido a essa forma de movimentação, é conhecido
como esquema Z. Esse esquema torna mais fácil compreender como duas
foto-reações acopladas podem tornar possível a redução do NADP+
pela
água: FSII promove a oxidação da água e FSI reduz o NADP+.
No esquema Z, a luz vermelha absorvida pelo FSII produz um forte
agente oxidante e um fraco agente redutor. A luz vermelha distante
(comprimento de onda maior que 680 nm) absorvida pelo FSI produz um
fraco oxidante e um forte redutor. O forte oxidante gerado no FSII
oxida a água, enquanto o forte redutor produzido pelo FSI reduz
NADP+.
FSII produz elétrons que reduzem o complexo citocromo f, enquanto
FSI produz um oxidante que oxida o complexo citocromo f. P680 e P700
referem-se ao comprimento de onda de máxima absorção das
clorofilas dos centros de reação no FSII e FSI, respectivamente.
Dois
grupos de herbicidas atuam para interferir esse caminho. Um grupo,
derivado da ureia e triazina, tal como o simazine, bloqueia a
transferência de elétrons para PQ. Outro grupo, que engloba diquat
e paraquat, interceptam elétrons que estão se deslocando para
ferrodoxina e transferem eles para o O2,
formando radicais livres tóxicos que danificam as membranas.
O
excesso de luz pode inibir a fotossíntese através de dois
processos: fotoinibição (reversível) e fotooxidação
(irreversível). A fotoinibição envolve danos aos centros de
reação, especialmente FSII, quando eles são sobre-excitados. O que
acontece no FSII é a perda da proteína envolvida na transferência
de elétrons entre P680 e PQ. Essa proteína pode ser recuperada
posteriormente.
Fotooxidação
é um processo irreversível e envolve diretamente os pigmentos
receptores de luz. Quando estes absorvem muita luz, ficam muito tempo
excitados e interagem com o CO2
produzindo
radicais livres, como superóxido (O2-),
o qual pode destruir os pigmentos. Há algumas defesas bioquímicas,
como a enzima superóxido dismutase (SOD) que destrói os radicais
livres, mas essas defesas são insuficientes se a exposição à alta
luminosidade é prolongada. Há também alterações fisiológicas as
quais reduzem os riscos de danos em alta luminosidade. Os
cloroplastos podem mover-se de um lado a outro da célula (ciclose);
a orientação da folha pode alterar a ponto de elas ficarem
alinhadas paralelamente à incidência dos raios solares e, assim,
absorverem menos luz.
Plantas
que crescem em ambientes com muita luz têm, frequentemente,
características estruturais e químicas que reduzem a quantidade de
luz que alcança o cloroplasto. As folhas podem ter superfície
brilhante ou refletivas ou apresentar cutícula mais espessa. As
células da epiderme podem conter antocianina, que absorve
comprimentos de onda curtos (menos danosos). No geral, as reações
de luz são componentes eficientes do maquinário bioquímico. Nessas
reações, até 20% da luz absorvida pode ser convertida em ATP.
Recentemente,
os cloroplastos têm captado a atenção dos interessados no
desenvolvimento de plantas geneticamente modificadas. Em certas
espécies, como o tabaco, os cloroplastos não são herdados do
gameta masculino; portanto, os transgenes não podem ser disseminados
através do pólen. Isso faz a transformação de plastídios uma
ferramenta para criação e cultivo de plantas geneticamente
modificadas, sem que haja o risco de contaminação com o gene
modificado para outras plantas, permitindo a coexistência de
agricultura convencional e orgânica na mesma propriedade. O processo
ainda está sob avaliação, pois não foi ainda bem estudado em
graneleiras. No tabaco, contudo, as plantas transplastômicas são
bastante viáveis como alternativa de produção.
Evidências
bioquímicas sugerem que os cloroplastos são descendentes de
bactérias fotossintetizantes produtoras de oxigênio, que foram
endocitadas e que viveram em simbiose com células eucarióticas
primitivas. Acredita-se que as mitocôndrias sejam também
descendentes de bactérias endocitadas. As muitas diferenças entre
os cloroplastos e as mitocôndrias refletem os seus distintos
ancestrais, bem como as suas subsequentes divergências evolutivas.
Todavia, os mecanismos fundamentais envolvidos na síntese de ATP
dirigida pela luz em cloroplastos e a síntese de ATP direcionada
pela respiração nas mitocôndrias são muito semelhantes.
PEROXISSOMAS
Peroxissomas
ou peroxissomos são organelas de 0,2 a 1 mm de diâmetro envolvidas
por uma unidade de membrana contendo cerca de 40 tipos diferentes de
enzimas oxidativas, dentre elas a catalase, urato oxidase e
D-amino-oxidase. Atuam no catabolismo de ácidos graxos de cadeia
longa (beta-oxidação),
formando Acetil-CoA e H2O2.
O
peróxido de hidrogênio detoxifica agentes nocivos como o etanol e
mata certos microrganismos. O excesso de H2O2
é
destruído pela enzima catalase,
também no interior dos peroxissomos. Os peroxissomos realizam ainda
a oxidação de urato e de D-aminoácidos.
Todas
as células animais possuem de 60 a 70 peroxissomos, sendo que
hepatócitos, neutrófilos e macrófagos e células renais possuem
maior número deles. Nas células vegetais, os glioxissomas
são
responsáveis pela metabolização dos triacilgliceróis (via do
glioxilato).
As
proteínas destinadas aos peroxissomos não são produzidas no RER, e
sim no citossol. Através de um peptídio sinal, aderem aos
receptores específicos na membrana dos peroxissomos. Um modo de
transporte especial, semelhante ao utilizado pelo complexo de poros
nucleares, envolve a translocação do receptor para a matriz, a
entrega da proteína transportada e o retorno do receptor para o
citosol. À medida que os peroxissomos incorporam lipídios e
proteínas à membrana, eles crescem e se dividem por fissão.
Pelo
menos 17 patologias humanas estão associadas a disfunções nos
peroxissomos. Destas, 15 têm envolvimentos neurológicos. Essas
doenças podem ser divididas em dois grupos: doenças peroxissomais
tipo 1 e 2. As primeiras apresentam defeitos generalizados na
biogênese da organela, sendo produzidos apenas peroxissomos
pequenos, em pequena quantidade e com morfologia defeituosa. No grupo
2, estão incluídas doenças que têm como causa defeitos em uma
enzima peroxissomal, havendo acúmulo de substratos e falta dos
produtos enzimáticos. Na Tabela 5.1, citamos algumas dessas
patologias.
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